Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 4: IV Pág. 44 / 519

É preciso que V. Ex.ª dê as providências, quando não…

D. Luís, tomando menos a peito do que o capelão os destinos do jantar e da sopa, e fiel ao hábito de nunca falar, nem em mal nem em bem, do hortelão, não respondeu e prosseguiu a leitura das folhas.

Daí a pouco referiu ao padre a notícia que tinha lido do desastre sucedido a uma diligência ao passar em uma ponte que na ocasião abatera, resultando muitas vítimas.

A indignação do padre exaltou-se.

- Pois se esta gente que nos governa deixa as estradas e pontes em abandono um desses! Vejam que tempos os nossos! E que governos, que não se importam com a vida dos cidadãos! Em que país do mundo se vêem estradas assim arruinadas como as nossas? São os bens que nos trouxeram os homens da Carta! Isto é bonito!

E o padre Januário continuou ainda por algum tempo a condenar, pelo crime de desleixo e falta de protecção à viação pública, os mesmos governos que, momentos antes, acusara de conceder para esse fim subsídios e de lhe dar importância demasiada.

A política de frei Januário é vulgar na nossa terra.

D. Luís, tendo concluído a leitura da folha, pô-la de lado e resumiu a série de pensamentos que essa leitura lhe sugerira na seguinte e contraída síntese:

- Isto vai cada vez melhor, frei Januário.

- Isto vai bonito, não tem dúvida nenhuma - secundou o padre.

- O pior é o futuro - tornou o fidalgo, assombrado.

- Ai, o futuro há-de ser fresco! - repetiu o procurador, fungando uma pitada.

- Enfim, quem viver verá aonde isto vai parar, onde nos leva esta torrente.

- E não é preciso viver muito. Mais dia menos dia temos aí os espanhóis, ou então passamos a ser ingleses. Não há que ver; da maneira por que vão as coisas…

- Ai, pobre Portugal! - exclamou melancolicamente D.





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