Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 32: XXXII Pág. 448 / 519

Nada, não, era melhor deixar aquele rapaz, que é a pérola dos rapazes, aquele rapaz que eu criei e que há de ser, e já é, a honra da família. Pois sim, não que eu sou mesmo mulher para o deixar morrer assim.

- Havia de valer-lhe bem. O fidalgo está mesmo agora à espera dos seus conselhos.

- Não estará, mas olha que, duro como é, já não era a primeira vez que eu me avinha com ele e sem ele levar a melhor. No tempo da senhora, que era um anjo, Deus a chame lá, ainda mais força de génio tinha ele e fazia-a chorar sangue e água pelo muito que lhe perseguia o irmão. A pobre criatura doente, e ele sem querer que ela recebesse as cartas que o irmão lhe escrevia, nem lhe deixar saber notícias dele. Eu, um dia, dei com o fidalgo no corredor e disse-lhe: «ó Sr. D. Luís, olhe que V. Ex.ª anda a fazer com que se rale de remorsos toda a sua vida, por deixar morrer a senhora assim a estalar de saudades e aflições. Veja bem V. Ex.ª que estas coisas pagam-se». Foi mesmo assim. E cuidas lá que ele se enfureceu? Qual! Calou-se muito caladinho, e daí por diante a senhora teve notícias amiudadas, e até o jardineiro mais tarde foi para casa e ainda lá está. Então já vês...

- Pois sim, mas o caso agora é mais difícil.

- Deixa-o ser; mas também o homem está mais quebrado.

- Tenha cuidado, minha mãe. Olhe lá não vá fazer alguma das suas.

- Alguma das minhas! Eu lá vejo quem é que te dá melhores conselhos do que eu. Alguma das minhas! Olha agora! Sabes tu que mais? Vou já daqui falar com o Tomé.

- Não lhe diga nada disto.

- Ora não querem ver a bonita cabeça que tem este rapaz? Está o casamento tratado, resolve agora não casar e nada de falar nisto ao pai da rapariga. Sim, que o Tomé é mesmo homem com quem se brinque e que se contente com meias razões.





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