Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 8: VIII Pág. 88 / 519

Tomé obteve do fidalgo da Casa Mourisca a condescendência de acompanhar a criança à pia baptismal. Luísa, pela sua parte, solicitou e conseguiu idêntico favor de uma senhora do Porto, para casa de quem ela por muito tempo lavara, quando nesse mister ocupava a sua robusta juventude.

A roda da fortuna, por uma das suas muito sabidas revoluções, alterou a posição relativa de toda esta gente durante o decurso dos primeiros anos de Berta.

Já sabemos como, em virtude desta revolução, Tomé subiu gradual e incessantemente, enquanto D. Luís descia. O mesmo que a este último sucedeu à tal senhora, cuja índole bondosa e tímida não soube opor estorvos às prodigalidades de um irmão perdulário; vendo-se, em consequência disso, obrigada a sair do Porto, onde vendeu tudo o que tinha, para ir para Lisboa educar meninas.

A primeira discípula que teve foi Berta. Os pais sentiam ambições por a filha e queriam dar-lhe a educação de uma senhora, aproveitando e cultivando nela as boas disposições que já adquirira na convivência com os pequenos da Casa Mourisca, onde era recebida com afecto. Além disso, outra mais generosa intenção levou-os a darem aquele passo. Queriam concorrer para aliviar o infortúnio da infeliz senhora, que sempre na opulência os auxiliara e estimara. Possuíam, porém, bastante delicadeza para lhe oferecerem socorros, sem um pretexto a colori-los. Pediram-lhe pois que tomasse conta da educação de Berta, e assim, além da mesada do costume, tinham o ensejo de fazerem valiosos presentes à mestra, que percebia e apreciava com lágrimas a generosidade daquele proceder.

Foi Berta mandada educar para Lisboa, o que não provocou escassos comentários na aldeia, onde se disse que o Tomé da Herdade se afidalgava, e que já não queria ter filhos lavradores.





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