Mal acabara de falar e já a rainha dos deuses, fazendo uma grande reverência, coma em direcção ao Olimpo a fim de transmitir as ordens do deus. Ao chegar à celeste morada, onde os deuses estavam reunidos em assembleia, foi por todos reverentemente saudada e Témis perguntou-lhe:
— Por que motivo estás tão perturbada? O filho de Saturno, teu esposo, terá sido a causa desse terror?
Juno, torcendo as mãos, respondeu:
— Não me perguntem nada. Todos vós conheceis o seu mau génio: é um espírito orgulhoso e não se dobra diante de coisa alguma.
Enquanto falava, a venerável deusa foi-se sentando, no que foi imitada pelos outros, ansiosos por saber o que se tinha passado. Foi servida a refeição e ela, dirigindo-se a todos, exclamou:
— Somos uns insensatos! Queremos fazer frente a Júpiter, desobedecemos às suas ordens mas ele pouco se interessa com isso, pois a sua força é muito superior à nossa e acaba sempre por triunfar. Neste exacto momento, está ele a tramar terríveis sofrimentos para todos e cada um de nós. A começar pelo deus Marte, que talvez não saiba que mataram seu filho Ascáfalo.
Ao ouvir estas palavras, Marte levantou-se e começou a arrancar os cabelos e a gemer, dizendo:
— Meus amigos! Tende paciência mas hei-de vingar o assassínio de meu filho. Vou descer até aos navios gregos, mesmo que depois Júpiter dê cabo de mim.
Enquanto falava, ia vestindo a pesada armadura e empunhando a lança, disposto a executar as suas ameaças. Foi preciso que Minerva interviesse.