— Como posso apresentar-me no combate — respondeu o herói — se não tenho armas e a minha mãe proibiu-me de sair daqui até que voltasse com uma nova armadura fabricada por Vulcano?
— Basta que apareças junto ao fosso, assim mesmo como estás, e os troianos, amedrontados, fugirão. O que permitirá que os guerreiros sosseguem um pouco. Embora breve, será precioso o descanso.
Aquiles correu até ao fosso e soltou o seu grito de guerra. Obedecendo ao conselho da mãe, não entrou na luta. Mas a sua presença foi suficiente para encher de pavor as fileiras troianas. Três vezes a sua voz se ergueu acima do tumulto e três vezes os troianos recuaram. Até os cavalos pressentiam a desgraça iminente e, sacudindo as crinas, faziam retroceder os carros.
Os gregos aproveitaram-se da confusão dos seus adversários e retiraram o cadáver de Pátroclo do campo de batalha. Em seguida, depuseram-no sobre um carro e formaram um cortejo, no qual se incorporou Aquiles, que o acompanhava chorando e lamentando-se. Aquele era o seu amigo querido, que ele mesmo tinha mandado para a luta, revestido com as suas próprias armas! E agora ali estava ele, desfigurado, morto, longe da pátria!
Quis a deusa Juno abreviar aquele dia penoso e ordenou que o Sol se pusesse antes da hora habitual. Assim, os bravos guerreiros gregos puderam descansar um pouco após tantos revezes.
Por sua vez, os troianos reuniram-se em assembleia para discutir o que deviam fazer, pois estavam cansados de lutar e temerosos com o retorno de Aquiles.
Primeiro falou Polidamas, cujos conselhos eram sempre muito acatados:
— Acho que agora devemos voltar à cidade e prepararmo-nos para defender as suas muralhas já que Aquiles, que no passado deixou tantas mulheres troianas viúvas e fez tantos prisioneiros, está novamente contra nós. E, desta vez, a piedade não morará no seu coração. Exigirá a vingança «trema pelo seu amigo morto e devemos temer a sua ira. Voltemos a Tróia, montemos guarda esta noite e pela manhã iremos para as muralhas e nem Aquiles, nem outro grego qualquer, conseguirá penetrar nelas.
O seu conselho era sábio, como sempre, mas Heitor replicou, indignado:
— És um cobarde, Polidamas, e recuso-me a seguir o teu conselho. Nem eu te atenderei, nem nenhum outro homem o fará, pois não o permitirei. Acamparemos aqui na planície esta noite e descansaremos. Pela manhã, atacaremos novamente os navios. E se realmente Aquiles tem intenção de voltar à luta, é ele quem deve temer-nos, pois estarei pronto para enfrentá-lo com a minha afiada lança. E, se os deuses o permitirem, terá o mesmo fim do seu querido amigo e poderão ir juntos para a terra de Plutão.
As suas palavras ousadas foram recebidas com euforia por muitos troianos que gritavam em sinal de aprovação, mas os outros, que preferiam seguir o conselho de Polidamas, permaneceram em silêncio, receando desagradar a Heitor.