Ouvindo as ameaças do inflexível Aquiles, o infeliz prostrou-se de joelhos e suplicou-lhe a tremer:
— Ó grande Aquiles! Aqui estou a teus pés como suplicante e não como guerreiro. Poupa-me a vida e leva-me prisioneiro como outrora fizeste Haveria de render-te bom preço e não terias necessidade de matar-me para vingar a morte de Pátroclo. Pensas que sou irmão de Heitor, o assassino de teu maior amigo, mas não, não somos filhos da mesma mãe.
Assim falava Licáon, julgando comover Aquiles. Mas este interrompeu-o com voz endurecida:
— Insensato, não me venhas com promessas de resgate que não me interessam. Enquanto Pátroclo vivia, eu achava que era preferível poupar os troianos e vendê-los como escravos, como fiz contigo uma vez. Agora, porém, nenhum escapará à morte e muito menos sendo filho de Príamo. Para que te lamentas? Pátrodo era muito melhor do que tu, e, todavia, morreu. Eu mesmo sou o mais forte de todos os guerreiros e minha mãe é uma deusa. Contudo, não escaparei ao meu destino. O meu dia chegará em breve. Porque te hei-de poupar?
Dizendo isto, enterrou a espada no peito de Licáon e separou-lhe a cabeça dos ombros. Em seguida, levantou-o por um pé e atirou-o ao rio com estas palavras:
— Vai-te para lá servir de alimento aos peixes! E vós todos, troianos para lá ireis também, pois não tendes outra saída. De nada vos servirá este rio, ao qual sacrificas muitos rebanhos desde tempos imemoriais. Apesar da vossa devoção ao Xanto, não escapareis da minha ira até que eu me sinta vingado pela morte de Pátroclo.
O Xanto, a quem os troianos chamavam de Escamandro e era de origem divina, ficou muito perturbado com as palavras de Aquiles e começou a pensar num meio de salvar os seus devotas e de impedir as façanhas do filho de Peleu.