Assim falando, precipitou-se Aquiles sobre os outros peónios, que fugiam em debandada, após terem presenciado a morte de seu chefe. Um a um, ia matando os mais valentes. E maiores vítimas teria feito se o rio, cada vez mais irritado, não o tivesse detido com estas palavras:
Aquiles, tu és o melhor de todos os guerreiros, mas com as tuas insolências ofendes os próprios deuses. Se Júpiter te deu permissão para matar s troianos, vai fazê-lo longe daqui. As minhas águas são calmas e aprazíveis e tu encheste-as de cadáveres. Já estou satisfeito com a tua bravura. Basta de tanta carnificina!
Farei o que me pedes, ó Escamandro! — respondeu Aquiles.— Mas não cessarei de matar os troianos até que os tenha obrigado a recuar para a cidade e me haja defrontado com Heitor. Quero ver qual de nós sai vencedor nesse combate de vida ou morte.
Disse isso e pulou para o meio do rio, na ânsia de perseguir os fugitivos.
Furioso, o rio começou a encapelar as suas águas, que se erguiam a uma altura espantosa. De uma extremidade à outra, fugiam as águas como um milhão de touros mugindo ao mesmo tempo. Vagalhões imensos atiravam às margens os cadáveres das vítimas de Aquiles. Depois, disposto a exercer vingança, o rio avançou contra Aquiles, açoitando-o com as suas águas revoltas. Os pés de Aquiles escorregavam e ele mal podia suster-se. Por fim deslizou e tombou na ribanceira. Ao cair, agarrou-se com ambas as mãos a uma árvore frondosa que havia na margem mas, com a base gasta pelas águas, a árvore desprendeu-se do barranco e atravessou-se na corrente formando um dique. Aquiles, de um salto, galgou a margem e correu pela planície, em fuga. Mas o Xanto ainda não estava satisfeito e fez com que as suas águas corressem atrás do fugitivo.