Ilíada - Cap. 33: Capítulo 33 Pág. 173 / 178

O velho estremeceu e levantou-se. Em silêncio, encaminharam-se os dois para a carruagem, onde se encontrava o corpo de Heitor.

Conforme o fizera antes, Mercúrio adormeceu a guarda e assim puderam passar sem serem incomodados pelas sentinelas gregas. Chegados às margens do Xanto, o deus despediu-se e voltou ao Olimpo. Príamo continuou sozinho a viagem e chegou em breve às portas da cidade. Cassandra, a mais bela das suas filhas, foi a primeira a reconhecer o velho pai. Ao ver estendido sobre o carro o corpo do irmão, pôs-se a gritar:

— Troianos e troianas, correi a ver Heitor! Correi, se vós ainda sois os mesmos que o aclamavam quando voltava dos combates coberto de glórias!

Não ficou ninguém dentro das muralhas da cidade. A população inteira acorreu às portas Céias, por onde Príamo entrava naquele instante. As primeiras a chegar foram Hécuba e Andrómaca. A esposa de Heitor, inclinando-se sobre o corpo inanimado do marido, chorava e clamava:

— Ó meu querido Heitor! Porque nos abandonaste a mim e ao teu filhinho, tão pequeno ainda! Ele, que era a tua alegria, não chegará à mocidade porque sem ti a cidade será destruída pelos poderosos gregos e morreremos todos!

Acompanhava Hécuba as lamentações da esposa de Heitor e todos tinham uma palavra de carinho à memória do mais ilustre guerreiro de Tróia. Por fim, apareceu também Helena, a causadora de tantas desgraças, clamando:

—Heitor! Foste tu o único que nunca me desprezaste nesta cidade. Nunca ouvi da tua boca uma palavra de censura e sempre me defendias quando alguém me lançava no rosto a minha culpa. Agora todos me detestam pois, sem o querer, fui eu a causa da tua morte!





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