E, dizendo isto, puxou para trás o cocheiro do carro de Diomedes e sentou-se ela própria a seu lado. Arrebatando o chicote e as rédeas, Minerva dirigiu o carro directamente contra Marte, que procurava naquele momento despojar um dos gregos que tinha morto. Tentou ocultar-se com o elmo de Plutão, deus que governa os mortos, para não ser reconhecida por Marte. Este, com efeito, não a viu e avançou sobre Diomedes, disposto a matá-lo. Mas a deusa desviou-lhe o golpe e a sua lança falhou o alvo. Por sua vez, Diomedes atirou-lhe um dardo que, conduzido por Minerva foi cravar-se na ilharga do adversário. O deus soltou um urro tão tremendo que fez estremecer gregos e troianos e fugiu apavorado para o Olimpo, oculto numa nuvem.
Ao chegar às moradas celestiais, o intrigante Marte foi queixar-se ao pai dos deuses, dizendo-lhe:
— Senhor, ficarás indiferente perante tais violências? Nós, os deuses, estamos a padecer de males terríveis por causa da má vontade de uns contra os outros. A tua filha é insensata e só faz coisas abomináveis. Todos nós te obedecemos, excepto ela, porque lhe fazes todas as vontades. Foi ela quem incitou o filho de Tideu a exercer a sua fúria contra os imortais. Primeiro, ele feriu Vénus no pulso; depois, atirou-se a mim como um possesso. Não fosse a minha agilidade e ainda lá estaria, sofrendo dores horríveis, ao lado dos míseros mortais.
Franzindo as sobrancelhas, o senhor do Olimpo respondeu:
— Não adiantam as tuas lamúrias, pois és o mais intriguista dos deuses e o que menos aprecio. Parece que herdaste o génio insuportável da tua mãe. Não te deixarei padecer porque és meu filho. Se não, expulsar-te-ia do Olimpo
Assim falou Júpiter e mandou que o médico celeste o curasse. Este derramou-lhe bálsamo na ferida e o belicoso Marte ficou imediatamente são. Hebe deu-lhe um banho perfumado e vestiu-lhe roupas magníficas, indo ele sentar-se muito satisfeito ao lado de Júpiter. Pouco depois chegavam Juno e Minerva, contentes por terem acalmado os ardores de Marte auxiliado os seus amados gregos.