Ilíada - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 8 / 178

- Nada tens a temer, Calcas - replicou Aquiles. - Diz-me a verdade pois, enquanto eu viver, nenhum grego te fará mal.

Fez uma pausa e, olhando na direcção de Agamémnon retomou a fala:

- Nem mesmo o grande rei Agamémnon, o melhor de todos os gregos, te poderá causar-te qualquer dano. Sou eu que to garanto.

- Sendo assim - disse Calcas, confiante -, direi por que razão a peste nos atingiu. Foi-nos enviada pelo imortal Apolo, não porque nos tenhamos esquecido de lhe oferecer sacrifícios, mas sim porque o rei Agamémnon se recusou atender as súplicas do velho Crises, que é seu sacerdote. Enquanto a donzela Criseida não for devolvida a seu pai, livremente e sem resgate, o deus continuará a castigar-nos.

Agamémnon indignou-se a ouvir tais palavras e, quando Calcas se calou, o grande rei permaneceu silencioso, consciente de que todos o olhavam. Então, ergueu-se e replicou:

- As tuas palavras, Calcas, são sempre desagradáveis. Nunca te ouvi proferir bons augúrios ou favores dos deuses, mas advertências e da tua boca fluem com toda a facilidade os maus presságios. Desta vez, acusas-me de ser responsável pela ira de Apolo e por esta praga e afirmas que só de mim depende a solução de tudo.

Recordando que todos os outros reis e príncipes se haviam mostrado favoráveis a aceitar o resgate e a devolver Criseida ao pai, continuou estendendo o braço num gesto colérico:

- Pois muito bem, o sacerdote recuperará a sua filha. Eu não queria deixá-la partir, mas prefiro isso à morte de todos os gregos. Ulisses preparará um navio para levá-la de regresso a Tebas.





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