Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 9: IX Pág. 110 / 519

Com certeza ninguém suspeitará, ao ver Berta, a origem aldeã que ela teve. A mim parecia-me impossível que aquela gentil rapariga, que tão airosamente cavalgava ao meu lado, fosse a filha de Tomé da Póvoa e daquela excelente Luísa.

- Ah! pois cavalgaste ao lado dela? Já?! - notou Jorge em tom de acerba ironia, que era novo nele.

- Sim; encontrei-os na estrada quando chegavam. Não a conheci ao princípio. Aproximei-me, conversei com ela, achei-a encantadora. E depois tinha no olhar tantas promessas!

Jorge deu em passear, evidentemente agitado.

- É o que eu digo - murmurava ele com um sorriso nervoso, e continuou:

- Maurício, Maurício, cautela! Cuidado com esse galanteio! Pode ser de mais sérias consequências do que as dúzias de paixões que tens tido por as nossas primas destes sítios. Essas o pior resultado a que poderiam conduzir-te era a casar com alguma delas e a enxertar assim no tronco ilustre da nossa árvore genealógica alguma ilustríssima vergôntea de uma cepa igualmente antediluviana.

- Aí estás tu zombando de novo da nossa aristocracia. Desconheço-te, Jorge. Realmente não sei donde te veio essa febre democrática e filosófica com que andas há tempos. Picou-te a mosca revolucionária.

Jorge acudiu com uma vivacidade que provavelmente não lhe era inspirada pelo assunto:

- Não sabes donde me vem? Vem-me de meia hora de reflexão por dia. É o que basta para me rir da fidalguia de toda esta nossa parentela, que se deixa devorar por dívidas, imaginando que há em si alguma coisa que resista à sua inútil ociosidade; e que hão-de ficar muito admirados quando, ao receberem um dia esmola da mulher do seu rendeiro, esta os não tratar por fidalgos, nem lhes agradecer a honraria de aceitá-la.

Outro menos despreocupado





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