- Olha se te deixas apaixonar por ela; anda lá! - continuou Jorge, ainda no mesmo tom.
- Não seria prova de mau gosto, afianço-te. Que superioridade, comparada a todas as nossas primas destes arredores! O que é a educação!
Jorge encolheu os ombros, dizendo com certo modo irritado:
- Provavelmente não produzirá em mim os mesmos efeitos. Tenho a certeza de que hei-de sentir saudades, ao vê-la, da Berta que conheci pequena.
- Não duvido, porque és bastante filósofo para isso. Eu por mim confesso-te que, na idade em que estou, e apesar de toda a simpatia que tenho por crianças, não me sinto com disposições para repetir as palavras de Cristo a respeito delas. Eu prefiro que se cheguem para mim…as grandes.
- Em vez da criança alegre e inocente, - prosseguiu Jorge com acrimónia - da criança que brincava connosco e com a nossa Beatriz, preferes encontrar a colegial, com o espírito voltado todo para a moda, com um pouco de geografia e de história na cabeça e deixando cair da boca, quando fala, palavras francesas, como deitava pedras preciosas a heroína daqueles contos que nos ensinavam em pequenos. E é isto o que te encanta?… Pois olha, eu até já não gosto de ver aberta aquela janela a estas horas. Sabe-me aquilo a romanticismo, e é nas raparigas uma doença impertinente, insuportável.
E Jorge retirou-se da janela com um mau humor difícil de explicar.
- Ora! se o facto de uma janela aberta de noite fosse indício do crime que dizes, até tu, o homem menos capaz de cometê-lo que eu conheço, poderias ser também acusado. Enganas-te; Berta é realmente adorável. Verás. As mulheres, Jorge, têm isso consigo. Amoldam-se muito mais depressa aos hábitos de elegância do que os homens.