O dia passou sem outro episódio para Berta, além da visita de algumas relações da família, que vinham festejar a chegada da primogénita do venturoso casal.
Berta conseguiu ser amável com todos, apesar das impertinências com que a interrogavam sobre as particularidades da sua vida na cidade.
Luísa não se fartava de admirar as maneiras e a eloquência da filha, e não fazia senão alternar a vista entre o rosto de Berta, que tão grata perspectiva era para o seu amor de mãe e o dos seus interlocutores, onde espiava o reflexo da admiração de que ela própria se sentia possuída.
Assim correu o dia.
O princípio da noite foi consagrado à família. Então é que chegou a vez a Tomé de perguntar, de querer saber, de fazer reflexões sobre o que ouvia; e Luísa, a santa mulher, muitas vezes a responder pela filha, como quem já se achava mais adiantada em conhecimentos do que o marido.
Era já um pouco tarde, e Tomé admirava-se da demora de Jorge, a quem mandara aviso para que viesse aquela noite, porque tinha que comunicar-lhe a respeito de negócios que tratara no Porto e Lisboa. Ouviu-se porém o ladrar dos cães no quinteiro, o som da aldraba no portão e em seguida passos no lajedo das escadas que conduziam ao patamar.
- Aí vem o Sr. Jorge - disse Luísa para o homem. - Conheço-o já pelo andar.
- É ele, é; e temos hoje bastante que falar.
- Eu vou acender o candeeiro no quarto - acrescentou Luísa, que saiu a preparar a sala das conferências.
Pouco depois, Jorge aparecia na sala em que ficara Tomé com a filha.
Jorge não era superior a uma oculta comoção ao entrar ali. Ia encontrar-se com Berta. O momento de que vagamente se temia, chegara enfim. Achava-se em frente do perigo desconhecido de que sentia íntimas apreensões.