Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 11: XI Pág. 133 / 519

Era ela, enfarinhada, arregaçada, afogueada, com os cabelos escondidos por baixo do lenço vermelho que atava sobre o occipital, com a voz potente, o olhar fino e os movimentos fáceis, apesar dos cinquenta anos já contados.

À sua vista perspicaz não escapou por muito tempo a presença de Maurício; e, logo que o viu, correu para ele com os braços abertos, exclamando:

- Ai, o meu rico filho!

- Cautela, cautela, Ana, olha que me enfarinhas! - advertiu Maurício, tentando fugir-lhe.

- E que tem que te enfarinhe? Olh'agora! A farinha é pão, e o pão vem de Deus.

E, sem precauções nem reparos, apertou o corpo delgado de Maurício nos seus robustos braços, deixando-lhe na roupa vestígios evidentes deste cordial amplexo.

- Vês, vês? - disse Maurício, sacudindo-se. - Olha em que preparo me puseste, ama! Estou asseado!

- Sim! Pois melhor para ti, que já tens que fazer, e não me andas por aí a vadiar e a fazeres-me doidas as moças cá da terra com as tuas brejeirices. Saíste-me boa rês, não tem dúvida nenhuma!

E pronunciava isto com um modo, acompanhava-o com um olhar tal que fazia tremer a eminência de um outro beijo e de um outro abraço.

Maurício continuava sacudindo-se.

- O mel que tenho vem do leite que bebi - dizia ele no entretanto.

- Hum! - acudiu a ti'Ana com um gesto de soberba. - Conta-me dessas! O que vos valeu, meus fidalguinhos de torrão de açúcar, foi trazer-vos eu a estes peitos, senão o que seria feito do vosso corpinho de vime? Olh'agora! Íeis como foram indo vossos irmãos mais velhos e aquele anjo de vossa irmã, que ainda hoje me resta a pena de não ter criado também. Mas quem adivinha vai para a casinha.

- Aos preparativos que estou vendo - observou Maurício - há grande fornada para hoje.

- É como vês.





Os capítulos deste livro