Era ela, enfarinhada, arregaçada, afogueada, com os cabelos escondidos por baixo do lenço vermelho que atava sobre o occipital, com a voz potente, o olhar fino e os movimentos fáceis, apesar dos cinquenta anos já contados. 
À sua vista perspicaz não escapou por muito tempo a presença de Maurício; e, logo que o viu, correu para ele com os braços abertos, exclamando: 
- Ai, o meu rico filho! 
- Cautela, cautela, Ana, olha que me enfarinhas! - advertiu Maurício, tentando fugir-lhe. 
- E que tem que te enfarinhe? Olh'agora! A farinha é pão, e o pão vem de Deus. 
E, sem precauções nem reparos, apertou o corpo delgado de Maurício nos seus robustos braços, deixando-lhe na roupa vestígios evidentes deste cordial amplexo. 
- Vês, vês? - disse Maurício, sacudindo-se. - Olha em que preparo me puseste, ama! Estou asseado! 
- Sim! Pois melhor para ti, que já tens que fazer, e não me andas por aí a vadiar e a fazeres-me doidas as moças cá da terra com as tuas brejeirices. Saíste-me boa rês, não tem dúvida nenhuma! 
E pronunciava isto com um modo, acompanhava-o com um olhar tal que fazia tremer a eminência de um outro beijo e de um outro abraço. 
Maurício continuava sacudindo-se. 
- O mel que tenho vem do leite que bebi - dizia ele no entretanto. 
- Hum! - acudiu a ti'Ana com um gesto de soberba. - Conta-me dessas! O que vos valeu, meus fidalguinhos de torrão de açúcar, foi trazer-vos eu a estes peitos, senão o que seria feito do vosso corpinho de vime? Olh'agora! Íeis como foram indo vossos irmãos mais velhos e aquele anjo de vossa irmã, que ainda hoje me resta a pena de não ter criado também. Mas quem adivinha vai para a casinha. 
- Aos preparativos que estou vendo - observou Maurício - há grande fornada para hoje. 
- É como vês.