Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 11: XI Pág. 134 / 519

E não minguam bocas que a comam. O Senhor nos não falte com estas côdeas.

- E o bolo que não esqueça.

- Eram bons tempos aqueles em que vocês ambos o comiam como se fosse maná! Esquecer! Olh'agora! Não há-de esquecer, não, se Deus quiser, que não falta por aí gente necessitada com quem se reparta. Vá, vá, raparigada! Não se me ponham agora paradas a olhar para as moscas, que o serviço não espera! Olh'agora! Deita-me o centeio naquela massa, pasmada, avia-te! Parece que nunca viram um rapaz! Bem tirado das canelas é ele, salvo seja; mas isso não basta! Olh'agora! Mas que milagre foi este que te trouxe por aqui a estas horas?

- Um passeio...

- Um passeio!... Hum! aí anda moiro na costa. Olha lá se me desinquietas coisa que me pertença, que tens de te haver depois comigo... Eu ainda tenho um par de sobrinhas que são moças de mão cheia. Ora olha lá. Quem te desse o juízo de Jorge! Aquilo é outro estofo! É verdade, - continuou ela, dando ênfase à interrogação com o poisar das mãos nos quadris - dizem que ele é quem dirige agora os negócios lá em casa?

- Há muito tempo já.

- Pois foi bem pensado! Sim, senhores. Porque olha que eu nunca gostei do frade, Deus me perdoe; e enquanto ao fidalgo, com ser boa pessoa, não serve lá muito para governar casa. E tu que fazes?

- Eu... , eu...

- Passeias; ora pois, pudera! Se este senhor havia de fazer outra coisa. Pois não fazes bem, que pelos modos isso lá por casa não está para graças.

- Que é do Clemente, Ana? - inquiriu Maurício, mudando de conversa.

- O meu Clemente? Ó filho, nem eu sei. Se queres que te diga, o rapaz, desde que o meteram na regedoria, não faz outra coisa. Isto é, eu devo dizer o que é verdade; o serviço aparece feito, isso lá aparece; mas a gente nem sabe quando, nem como.





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