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Capítulo 14: XIV

Página 160

Era noite de luar, tépida noite de Outono, lânguida e serena, como podem desejar os mais exaltados devaneadores. Havia uma limpidez no céu, uma quietação nos bosques tão completa, que parecia que a natureza toda parara em suspensão a contemplar o solene progresso da Lua pelo firmamento, que inundava de luz.

Era uma destas noites em que só a custo se troca o ar livre dos campos pelo ar confinado do gabinete, em que se hesita ao cerrar as janelas aos raios da Lua que invadem a sala, para os substituir pela luz vacilante da lâmpada que alumia as vigílias do estudo.

O próprio Jorge, habituado como estava ao trabalho, cedeu às seduções daquela noite e deixou-se ficar sob as árvores da quinta. O peito precisava de ar limpo que o desoprimisse.

Os carvalhos e castanheiros seculares temperavam a claridade da Lua, coando-a através da folhagem, de que o Inverno os não despira ainda. Uma luz misteriosamente discreta penetrava no bosque; raros sons interrompiam aquele silêncio, além do rumor longínquo e monótono das fontes e cascatas.

O pensamento de Jorge perdera a placidez habitual; como que despertavam nele os instintos de juventude, povoando-lhe de visões o campo da fantasia, de ordinário ocupado por mais severas imagens.

Os seus cálculos, os seus projectos de futuro, os problemas de administração, que lhe absorviam o pensamento, cederam agora o lugar a ideias menos positivas, a meditações vagas, a quase devaneios em que raras vezes a sua razão se deixava arrebatar. Primeiro dominou-o a magia do passado: evocou do silêncio dos túmulos aqueles dos seus antepassados que trouxeram com todo o esplendor o nome que hoje era seu, os que mais alto elevaram o enegrecido brasão que honrava ainda a frontaria daquele solar em ruínas.

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pág. 160 (Capítulo 14)

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Capa do livro Os Fidalgos da Casa Mourisca
Páginas: 519
Página atual: 160

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 18
III 25
IV 42
V 54
VI 62
VII 72
VIII 86
IX 102
X 114
XI 127
XII 137
XIII 145
XIV 155
XV 168
XVI 197
XVII 214
XVIII 233
XIX 247
XX 255
XXI 286
XXII 307
XXIII 317
XXIV 332
XXV 348
XXVI 358
XXVII 374
XXVIII 391
XXIX 401
XXX 414
XXXI 426
XXXII 440
XXXIII 450
XXXIV 462
XXXV 477
XXXVI 484
XXXVII 499
Conclusão 515