Trabalhava-se ali para destruir e não para semear ou edificar. O desbarato com que os proprietários sacrificavam os seus bens atraía os ávidos vizinhos, como corvos sinistros em volta do cadáver exposto na estrada.
Era meio-dia, quando Maurício se apeou no espaçoso pátio da casa, onde reinava o silêncio das ruínas. Apenas se ouvia o latir de uma matilha encerrada nas lojas e impaciente por ir bater as matas e bouças. O aspecto que teria a vista de quem entrava era de uma propriedade inteiramente abandonada; ali apodrecia um arado inútil; além oxidavam-se os metais de inactivos instrumentos de lavoura; a água empoçada das últimas chuvas estancava, cobrindo-se de uma crusta esverdeada; as ortigas e parietárias vegetavam em plena liberdade nas junturas das lájeas e nos buracos das paredes. Nos telhados cresciam em verdadeira floresta as ervas parasitas; fragmentos de louça, de garrafas, velhos arcos de pipa, farrapos, montões de caliça pejavam, desde tempos imemoriais, a superfície do pátio.