Maurício subiu as escadas desta casa húmida e entrou nos corredores, que estavam tão desertos como o pátio. Passeavam por eles imperturbadas as galinhas e as pombas como em terreno familiar, e ocasiões havia em que pela porta meia aberta dos aposentos se insinuava curiosa uma cabeça suína. Só os criados não apareciam, a ociosidade dos amos era contagiosa. Conhecedor da topografia da casa, Maurício foi ter direito ao quarto dos primos que procurava.
Dormiam ainda os dois mais novos, enquanto o morgado andava labutando com alguns lavradores vizinhos no destroço do que ainda lhe restava.
O sono do padre e do doutor não era para ceder à primeira chamada. Ainda depois de lhes bater à porta, Maurício continuou a ouvi-los ressonar em um duo assustador.
Afinal respondeu a voz rouca de um deles com um som inarticulado, que claramente expressava o mau humor que lhe assistia ao despertar.
- Sou eu, abram - disse Maurício, continuando a bater.
Respondeu-lhe uma praga, e depois outra voz acrescentou:
- A porta está aberta. Levanta a tranqueta e entra.
Maurício assim fez e entrou para a sala, que servia de aposento comum dos dois manos.
Havia dentro uma atmosfera quente, abafadiça e viciada de fumo de cigarro que sufocava.
A sala era ampla, mas de um desarranjo e desconforto indescritíveis.
Dois catres de ferro ao lado um do outro, uma cadeira sem fundo, sustentando a bacia e jarro mutilados, servia de lavatório, a roupa pendurada em cabides fixos na parede mal caiada e salitrosa, ou caída pelo chão; o espelho pendente dos caixilhos da janela, velas de sebo