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Capítulo 2: II

Página 21
A indiferença com que estes selvagens encaram tudo isto! Repara, vê aquele labrego passar lá em baixo na ponte; olha lá se ele desvia a cabeça para algum dos lados, ou se pára um momento para gozar do belo espectáculo que dali observa. Olha para aquilo! Selvagem! Pergunta ao Tomé ou a toda essa gente que lá anda em baixo a trabalhar quantas vezes admiraram as belezas de uma noite de luar, vista do alto do outeiro pequeno, ou se o pôr-do-sol lhes produz alguma sensação na alma, a não ser a lembrança de que vão sendo horas da ceia.

Jorge sorria ao ouvir o irmão, e tornou placidamente:

- Que homem este! A poesia precisa ter quem a entenda e quem a faça; e olha que nem sempre os que a entendem a fazem, nem os que a fazem a entendem. Esta pobre gente do campo é uma parte integrante dela; não o contemplam, completam-no. Que querias tu? Gostavas talvez mais que em vez dessa gente indiferente, que trabalha, estivessem por aí os montes, os vales e as ribeiras povoados de poetas contempladores como tu? Deves confessar que seria um campo bem ridículo esse. Se eu até, para que te diga a verdade, estou persuadido de que não encontraria encantos nos lugares muito visitados que há por as quatro partes do mundo, onde, a cada momento, apreciadores ingleses, franceses, russos e alemães passeiam, soltando exclamações poliglotas, e onde o nosso entusiasmo nos é prescrito a páginas tantas do Guia do Viajante. O que torna os lavradores poéticos é a inconsciência com que eles o são.

- Vistos de longe. Pelo menos concorda nisto; vistos de longe, e de muito longe.

- Vistos de longe, sim, que dúvida? como tudo o mais. Ao perto também muito desses prados são pântanos malcheirosos, que infectam, e mexe-se uma mirada de insectos repugnantes nessa verdura que tanto admira.

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Capa do livro Os Fidalgos da Casa Mourisca
Páginas: 519
Página atual: 21

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 18
III 25
IV 42
V 54
VI 62
VII 72
VIII 86
IX 102
X 114
XI 127
XII 137
XIII 145
XIV 155
XV 168
XVI 197
XVII 214
XVIII 233
XIX 247
XX 255
XXI 286
XXII 307
XXIII 317
XXIV 332
XXV 348
XXVI 358
XXVII 374
XXVIII 391
XXIX 401
XXX 414
XXXI 426
XXXII 440
XXXIII 450
XXXIV 462
XXXV 477
XXXVI 484
XXXVII 499
Conclusão 515