Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 2: II

Página 22
Diz-me uma coisa, Maurício, parece-te que o nosso velho solar prejudica a beleza desta paisagem?

- Se prejudica? Ora essa! Adorna-a. Olha que bem que ele sai daquele fundo que lhe fazem os castanheiros!

- Muito bem, e contudo, visto de perto, há lá tristes e prosaicas realidades - observou Jorge, suspirando.

Ao olhar de estranheza com que, ao ouvir-lhe estas palavras, o irmão o fitou, Jorge correspondeu dizendo:

- Sim, Maurício, triste e prosaica realidade para quem o olhar de perto. Há nada mais triste do que aqueles campos invadidos pelas ortigas que nós lá temos, do que aqueles pomares maltratados, e aqueles celeiros em ruínas? Quererás encontrar poesia na nossa pobreza, Maurício?

- Pobreza?!

- Pobreza, sim; pois que nome lhe queres dar? Olha, compara o aspecto dessa casa branca de um andar, que aí fica em baixo, com o do nosso paço acastelado, a actividade daqueles homens com a sonolência crónica do nosso capelão; compara ainda, Maurício, compara a desafogada alegria de Tomé com a tristeza sem conforto do nosso pai.

Maurício curvou a cabeça, e uma como sombra de tristeza pairou-lhe algum tempo na fronte, habitualmente desanuviada. Dir-se-ia que pela primeira vez o vulto descarnado da realidade se lhe apresentava aos olhos, até então fascinados pelo fulgor de lisonjeiras ilusões.

Mas, depois de breves instantes de silêncio, respondeu ao irmão:

- Pois bem, será como dizes. Creio até que seja essa a verdade. A riqueza está ali, a pobreza do nosso lado; porém a poesia… oh! essa deixa-no-la ficar, que bem sabes que não é ela a habitual companheira da opulência.

- Da opulência ociosa, egoísta e inútil, decerto que não; mas da opulência activa, benéfica, que semeia, que transmite a vida em volta de si, da opulência que fomenta o trabalho, que cultiva os terrenos maninhos, que fertiliza a terra estéril, que sustenta, que educa e civiliza o povo, oh! dessa é a poesia companheira também.

<< Página Anterior

pág. 22 (Capítulo 2)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Fidalgos da Casa Mourisca
Páginas: 519
Página atual: 22

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 18
III 25
IV 42
V 54
VI 62
VII 72
VIII 86
IX 102
X 114
XI 127
XII 137
XIII 145
XIV 155
XV 168
XVI 197
XVII 214
XVIII 233
XIX 247
XX 255
XXI 286
XXII 307
XXIII 317
XXIV 332
XXV 348
XXVI 358
XXVII 374
XXVIII 391
XXIX 401
XXX 414
XXXI 426
XXXII 440
XXXIII 450
XXXIV 462
XXXV 477
XXXVI 484
XXXVII 499
Conclusão 515