Mais perto deles parou e perguntou-lhes:
- Tenho o caminho livre?
- Apenas depois de satisfeita a simples formalidade de se dar a conhecer - respondeu o padre.
- À ordem de quem?
- De três contra um.
- É direito que não reconheço.
E o indivíduo, desembaraçando um pouco os braços, que levava envolvidos em uma manta, parecia disposto a fazer face a uma dessas agressões que não são raras em algumas das nossas freguesias rurais.
Neste tempo, porém, Maurício, a quem a voz deste homem havia ferido desde as primeiras palavras que lhe ouvira, adiantou-se para ele e, ao vê-lo desembaraçado, exclamou:
- Mas... ele é Jorge!
Os primos soltaram uma risada.
Jorge, que o leitor já tinha reconhecido, vendo enfim quem eram os seus supostos agressores deixou outra vez cair a manta sobre os ombros e perguntou em tom de leve despeito:
- Então que brincadeira é esta?
- Não é nada, primo Jorge, - respondeu o doutor - quisemos apenas verificar uma suspeita.
- Uma suspeita?!
- Vamos, perdoa-nos a indiscrição, mas bem vês que há poucos prazeres para uns pecadoraços como nós iguais ao que nos causa o ver cair um santo nas mesmas fraquezas de que nos acusam.
Isto disse o padre; o doutor acrescentou:
- O que te pedimos de hoje em diante é menos severidade nos teus juízos e mais indulgência para as misérias dos humanos.
Jorge principiou a irritar-se com as palavras dos primos; voltando-se para Maurício, disse-lhe com certa rispidez e quase tremendo de indignação:
- Tu, que estás mais habituado do que eu a lidar com estes senhores, não me saberás explicar estes ditos, que não percebo, e ao mesmo tempo a significação da tua presença aqui, a tolher-me os passos, como um ladrão nocturno?
O silêncio de Maurício significava também muita indignação e cólera concentrada.