Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 16: XVI Pág. 210 / 519

Mais perto deles parou e perguntou-lhes:

- Tenho o caminho livre?

- Apenas depois de satisfeita a simples formalidade de se dar a conhecer - respondeu o padre.

- À ordem de quem?

- De três contra um.

- É direito que não reconheço.

E o indivíduo, desembaraçando um pouco os braços, que levava envolvidos em uma manta, parecia disposto a fazer face a uma dessas agressões que não são raras em algumas das nossas freguesias rurais.

Neste tempo, porém, Maurício, a quem a voz deste homem havia ferido desde as primeiras palavras que lhe ouvira, adiantou-se para ele e, ao vê-lo desembaraçado, exclamou:

- Mas... ele é Jorge!

Os primos soltaram uma risada.

Jorge, que o leitor já tinha reconhecido, vendo enfim quem eram os seus supostos agressores deixou outra vez cair a manta sobre os ombros e perguntou em tom de leve despeito:

- Então que brincadeira é esta?

- Não é nada, primo Jorge, - respondeu o doutor - quisemos apenas verificar uma suspeita.

- Uma suspeita?!

- Vamos, perdoa-nos a indiscrição, mas bem vês que há poucos prazeres para uns pecadoraços como nós iguais ao que nos causa o ver cair um santo nas mesmas fraquezas de que nos acusam.

Isto disse o padre; o doutor acrescentou:

- O que te pedimos de hoje em diante é menos severidade nos teus juízos e mais indulgência para as misérias dos humanos.

Jorge principiou a irritar-se com as palavras dos primos; voltando-se para Maurício, disse-lhe com certa rispidez e quase tremendo de indignação:

- Tu, que estás mais habituado do que eu a lidar com estes senhores, não me saberás explicar estes ditos, que não percebo, e ao mesmo tempo a significação da tua presença aqui, a tolher-me os passos, como um ladrão nocturno?

O silêncio de Maurício significava também muita indignação e cólera concentrada.





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