Maurício quis correr atrás daquele homem. Retiveram-no os primos.
- Espera, pateta! Deixa-o sair, que eu te prometo que havemos de conhecê-lo.
- Que diabo queres tu fazer, maluco? Não vês que espantas a caça?
- Hei-de ver quem ele é!
- Pois sim, mas para isso é preciso prudência.
- A porta ficou aberta. Eu vou...
- Vais aonde? Ora tem juízo. À saída pilhamo-lo.
Maurício, porém, insistiu e os primos condescenderam em passar um cauteloso exame à entrada por onde o vulto desaparecera.
Reprimindo a custo os ímpetos de Maurício, o padre dirigiu a exploração, e mui de mansinho entreabriu a porta e entraram no pátio da casa; perto ficava a escada por onde se subia para as salas.
Maurício ia a transpô-la, mas os primos impediram-no. Daqui originou-se uma pequena altercação, que, ainda que em voz baixa, foi percebida pelos cães, que latiram furiosos.
De uma das janelas da casa partiu uma voz, perguntando:
- Quem está aí?
Era a voz de Berta.
Maurício ia a responder-lhe, cheio de indignação, mas o padre tapou-lhe a boca e obrigou-o a retirar-se.
Esta retirada foi feita com tal perícia que não excitou mais atenção da gente da casa.
Tudo recaiu em sossego.
A presença de Berta foi para Maurício a confirmação das suspeitas dos primos. Por isso mais excitado e impaciente do que até ali, aguardava a saída do misterioso incógnito.
O padre colocou-se em sítio apropriado para poder tolher a passagem ao visitador nocturno.
Perto de hora e meia aguardaram os três. Afinal ouviu-se ruído na porta, e depois de algumas palavras ditas para dentro a meia voz, o homem espiado saiu.
Ouviu-se atrás dele correr a chave na fechadura, cautelosamente.
A vinte passos, pouco mais ou menos, de distância da casa de Tomé, o personagem que tanta curiosidade excitava viu o vulto de três homens imóveis que lhe estorvavam a passagem.