Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 16: XVI Pág. 212 / 519

há poucos dias? Invocaste o nome sagrado de nossa mãe, a memória venerada de Beatriz, para quê? Para exigires de mim uma promessa, dizias tu, que era a de respeitar a paz de coração de uma rapariga que uma abençoara e a quem a outra quisera como a irmã; mas sob a capa dessa promessa ia a de te deixar em paz no gozo das tuas aventuras nocturnas e dos teus amores traiçoeiros e escandalosos.

- Silêncio! - exclamou Jorge com um tom intimativo que cortou em meio as palavras do irmão. - Podia perdoar-te todos os insultos feitos ao meu carácter; não posso consentir que calunies quem não está aqui para se defender, e quem tinha direito a esperar encontrar em ti um defensor e não um caluniador. Ordeno-te silêncio em nome de alguns restos de honra que ainda te deixassem intacta as companhias devassas que frequentas.

- Que é lá isso, priminho, que é lá isso? - acudiram imediatamente os dois manos.

Jorge não se intimidou.

- Não me assustam as suas ameaças. Sei agora o que significa esta espionagem e aquelas gargalhadas cínicas e alvares de há pouco. Cabe-lhes bem o papel degradante que desempenham aqui, e nem é de estranhar o conceito que formam das intenções dos outros, de que julgam pelas suas. O que lamento é ver-te associado a esta empresa, Maurício, porque, faço justiça ao teu carácter, deve repugnar-te intimamente o passo que deste.

- Em vez de sermões, priminho, não acha que seria melhor explicar-nos o que veio fazer a horas mortas a esta casa?

- Não sinto a necessidade de explicar as minhas acções diante de tais juízes. Pouco me importa a estima em que têm a minha reputação os senhores do Cruzeiro. Resignar-se-ão portanto a prescindirem das explicações que pedem.

Os dois riram-se maliciosamente. Jorge prosseguiu:

- Entendo esse riso.





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