- Silêncio! - exclamou Jorge com um tom intimativo que cortou em meio as palavras do irmão. - Podia perdoar-te todos os insultos feitos ao meu carácter; não posso consentir que calunies quem não está aqui para se defender, e quem tinha direito a esperar encontrar em ti um defensor e não um caluniador. Ordeno-te silêncio em nome de alguns restos de honra que ainda te deixassem intacta as companhias devassas que frequentas.
- Que é lá isso, priminho, que é lá isso? - acudiram imediatamente os dois manos.
Jorge não se intimidou.
- Não me assustam as suas ameaças. Sei agora o que significa esta espionagem e aquelas gargalhadas cínicas e alvares de há pouco. Cabe-lhes bem o papel degradante que desempenham aqui, e nem é de estranhar o conceito que formam das intenções dos outros, de que julgam pelas suas. O que lamento é ver-te associado a esta empresa, Maurício, porque, faço justiça ao teu carácter, deve repugnar-te intimamente o passo que deste.
- Em vez de sermões, priminho, não acha que seria melhor explicar-nos o que veio fazer a horas mortas a esta casa?
- Não sinto a necessidade de explicar as minhas acções diante de tais juízes. Pouco me importa a estima em que têm a minha reputação os senhores do Cruzeiro. Resignar-se-ão portanto a prescindirem das explicações que pedem.
Os dois riram-se maliciosamente. Jorge prosseguiu:
- Entendo esse riso.