Conheço-os. Sei que depois da espionagem se segue a calúnia; mas o meu desprezo é muito grande para transigir. Caluniem. 
- Ora essa! Nós sabemos guardar um segredo. Sossega. 
- Sei qual é o alimento com que se nutre a sua ociosidade. Não importa. À vontade, meus senhores, têm a estrada livre e contem que não serei eu que os estorve naquela que costumam seguir, porque não a frequento. 
Dizendo isto deu alguns passos para se afastar; depois, voltando-se para Maurício: 
- Repara que já desceste o primeiro degrau da infâmia; espiaste; agora vê se desces o segundo, caluniando. Há naquela casa uma família tranquila e respeitada, ajuda agora esta gente a manchá-la de lama, ajuda; o insulto é fácil para quem não precisa de se abaixar muito para a apanhar. 
Os primos, ainda que valentes e atrevidos, ouviram com excepcional prudência a correcção que lhes infligiram as palavras de Jorge e limitaram-se a acompanhá-lo de risadas quando ele se retirou. 
Maurício estava já sentindo remorsos do que dissera ao irmão. Este adquirira sobre ele o seu antigo ascendente. 
- Parece-me que foi bem infame o que fizemos aqui - disse Maurício, arrependido. 
- Sim? Parece-te isso? Pois vai pedir perdão ao mano - tornou-lhe o padre, rindo com desdém. 
- Parvo! - exclamou o doutor. - Querem ver que engoliu a arara?! 
- Deixa lá, então que queres? A inocência tem destas canduras. 
- Mas vocês ainda acreditam? 
- Ora adeus, adeus! Vai-te deitar e vê se nos arranjas umas indulgências do mano Jorge. 
E os primos deixaram Maurício, e partiram zombando da candura dele. 
Maurício voltou a casa desgostoso de si e com o espírito flutuando entre o remorso e a suspeita.