Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 16: XVI Pág. 213 / 519

Conheço-os. Sei que depois da espionagem se segue a calúnia; mas o meu desprezo é muito grande para transigir. Caluniem.

- Ora essa! Nós sabemos guardar um segredo. Sossega.

- Sei qual é o alimento com que se nutre a sua ociosidade. Não importa. À vontade, meus senhores, têm a estrada livre e contem que não serei eu que os estorve naquela que costumam seguir, porque não a frequento.

Dizendo isto deu alguns passos para se afastar; depois, voltando-se para Maurício:

- Repara que já desceste o primeiro degrau da infâmia; espiaste; agora vê se desces o segundo, caluniando. Há naquela casa uma família tranquila e respeitada, ajuda agora esta gente a manchá-la de lama, ajuda; o insulto é fácil para quem não precisa de se abaixar muito para a apanhar.

Os primos, ainda que valentes e atrevidos, ouviram com excepcional prudência a correcção que lhes infligiram as palavras de Jorge e limitaram-se a acompanhá-lo de risadas quando ele se retirou.

Maurício estava já sentindo remorsos do que dissera ao irmão. Este adquirira sobre ele o seu antigo ascendente.

- Parece-me que foi bem infame o que fizemos aqui - disse Maurício, arrependido.

- Sim? Parece-te isso? Pois vai pedir perdão ao mano - tornou-lhe o padre, rindo com desdém.

- Parvo! - exclamou o doutor. - Querem ver que engoliu a arara?!

- Deixa lá, então que queres? A inocência tem destas canduras.

- Mas vocês ainda acreditam?

- Ora adeus, adeus! Vai-te deitar e vê se nos arranjas umas indulgências do mano Jorge.

E os primos deixaram Maurício, e partiram zombando da candura dele.

Maurício voltou a casa desgostoso de si e com o espírito flutuando entre o remorso e a suspeita.





Os capítulos deste livro