Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 17: XVII Pág. 228 / 519

Meus senhores, eu acordei com a firme resolução de lutar contra esta torrente que nos arrasta e afoga a todos, apesar dos nossos brasões, dos nossos solares, dos nossos pergaminhos e das nossas galerias de retratos. Todos quantos aqui estão podem contar das glórias passadas e da decadência e das humilhações presentes. E nós como todos. Eu era novo, tinha diante de mim a perspectiva de uma longa vida, pensava no futuro e não podia resignar-me à ideia de morrer assim cobarde e ingloriamente. Reagi, encontrei felizmente em meu pai o auxílio preciso, e, autorizado por ele, tomei sobre meus ombros a tarefa de sustentar as ruínas vacilantes desta casa. A empresa porém era mais difícil do que a supusera. Tolhia-me os movimentos a rede complicada em que a errada gerência de muitos anos embaraçara a administração. Cada passo dado para salvar-nos era mais um para a total ruína. Devem compreender bem isto os que me escutam, porque a sorte das nossas casas é quase a mesma. De todos os lados para onde nos viramos, surge-nos a usura, o dolo e a má-fé. Nestas circustâncias só me podia valer a experiência dos negócios, e essa faltava-me, o crédito, e quem mo reconheceria e aceitaria? o capital, e por que preço poderia obtê-lo? Perguntem ao nosso antigo administrador, aqui presente, o preço por que ele o encontrava. Pois bem, senhores, um homem chegou-se a mim nestas condições e pôs à minha disposição, leal e desinteressadamente, a sua experiência, o seu crédito e o seu capital. Graças a este homem, era-me possível libertar-me, sem baixeza, da usura que havia tantos anos nos devorava, aplicar vantajosamente os capitais obtidos e encetar um sistema, lento mas seguro, de administração que preparasse o caminho para um futuro resgate desta casa. Graças




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