Veja o que faz! A prudência...
- Sossegue, frei Januário - atalhou D. Luís com um sorriso amargo. - Não imagine que venho praticar alguma violência. Já lá vai o tempo em que nós resolvíamos à força de braço os nossos pleitos. A nossa vez passou, bem vê.
O padre conhecia pelo tom da resposta que o fidalgo estava já mais quebrado, mas ainda pouco disposto para explicar-se.
Para se chegar à casa de Tomé da Póvoa por o lado por onde D. Luís seguia, tinha-se de tomar por uma avenida de olmeiros, orlada por sebes naturais formadas de madressilvas e de roseiras. No fim desta avenida ficava uma das entradas da quinta do fazendeiro, que era a parte que ele cedera às predilecções da filha e da mulher, e onde as balsaminas, os limonetes e hortênsias cresciam vigorosas, e a relva rescendia com as violetas e malvas que a entremeavam.
D. Luís desceu lentamente a avenida, com os olhos fitos no portão da quinta.
- É aquela uma das entradas da propriedade, não é? - perguntou ele ao padre.
- É, sim, senhor. Repare V. Ex.ª que é um portão de quinta nobre. Falta-lhe o brasão.
O fidalgo calou-se e não tirou os olhos do portão da quinta, da qual se ia avizinhando. Passados alguns instantes respondeu à observação do procurador, dizendo:
- Dentro de alguns anos mais pode comprar barato o da Casa Mourisca. Os meus filhos não serão exigentes no preço.
O padre não soube bem o que devia dizer neste caso. Limitou por isso a expelir um simples «Oh!» sem entonação que o definisse.
Chegaram enfim ao portão. D. Luís ordenou ao padre que tocasse a sineta.
Este ia a fazê-lo, quando se voltou dizendo:
- Anda gente cá dentro.
D. Luís não foi superior a certo sobressalto ao ouvir a notícia; vencendo-se, porém, caminhou, resoluto e com a fronte contraída, para diante.