Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 18: XVIII Pág. 241 / 519

Veja o que faz! A prudência...

- Sossegue, frei Januário - atalhou D. Luís com um sorriso amargo. - Não imagine que venho praticar alguma violência. Já lá vai o tempo em que nós resolvíamos à força de braço os nossos pleitos. A nossa vez passou, bem vê.

O padre conhecia pelo tom da resposta que o fidalgo estava já mais quebrado, mas ainda pouco disposto para explicar-se.

Para se chegar à casa de Tomé da Póvoa por o lado por onde D. Luís seguia, tinha-se de tomar por uma avenida de olmeiros, orlada por sebes naturais formadas de madressilvas e de roseiras. No fim desta avenida ficava uma das entradas da quinta do fazendeiro, que era a parte que ele cedera às predilecções da filha e da mulher, e onde as balsaminas, os limonetes e hortênsias cresciam vigorosas, e a relva rescendia com as violetas e malvas que a entremeavam.

D. Luís desceu lentamente a avenida, com os olhos fitos no portão da quinta.

- É aquela uma das entradas da propriedade, não é? - perguntou ele ao padre.

- É, sim, senhor. Repare V. Ex.ª que é um portão de quinta nobre. Falta-lhe o brasão.

O fidalgo calou-se e não tirou os olhos do portão da quinta, da qual se ia avizinhando. Passados alguns instantes respondeu à observação do procurador, dizendo:

- Dentro de alguns anos mais pode comprar barato o da Casa Mourisca. Os meus filhos não serão exigentes no preço.

O padre não soube bem o que devia dizer neste caso. Limitou por isso a expelir um simples «Oh!» sem entonação que o definisse.

Chegaram enfim ao portão. D. Luís ordenou ao padre que tocasse a sineta.

Este ia a fazê-lo, quando se voltou dizendo:

- Anda gente cá dentro.

D. Luís não foi superior a certo sobressalto ao ouvir a notícia; vencendo-se, porém, caminhou, resoluto e com a fronte contraída, para diante.





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