D. Luís.
- Jesus! E agora a dizer-me adeus! - continuava D. Luís, dizendo adeus também - é mesmo aquele anjo que eu perdi. Fujamos, fujamos destes sítios que tenho medo de enlouquecer.
- E até porque é noite fechada - acrescentou o padre. - Valha-nos Deus!
Depois de longo tracto de caminho andado em silêncio, D. Luís parou, e, levantando os olhos ao céu, exclamou com paixão:
- Que tremendas culpas estou eu expiando, meu Deus! Porque me roubas tudo, para tudo dares àquele homem?! Até a filha! até a suave consolação daquele amor de filha, que eu perdi, até esse ele possui? Que tremendo castigo, Senhor!
Daí até o termo da jornada, na quinta dos Bacelos, não tornou a pronunciar uma só palavra.
Quando lá chegaram, ia a noite adiantada; e já havia desassossego pela demora dos dois.
O padre procurador estava furioso. Dizia ele, completamente desconcertado:
- Uma estafa assim depois de um jantar lauto! Esta gente não tem consciência. Deus queira que não me venha por aí alguma apoplexia! Os filhos são doidos, o pai está pateta, e eu que os ature!
E correu à cozinha a ver se havia alguma coisa quente que o confortasse.