Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 20: XX

Página 260
para mas entregar, como se eu fosse um miserável que tivesse sequer sonhado um dia em especular com a confiança que seu filho pôs em mim! As novidades correm depressa na aldeia e não falta gente para denegrir o carácter de um homem. Depois do passo que V. Ex.ª deu, o que se não terá dito? Que eu andava sugando os últimos restos de sangue da boa-fé e da pouca experiência do seu filho, mas que o fidalgo me desmascarou a tempo! E se disser isto, não sentirá V. Ex.ª remorsos por ter dado azo a uma calúnia? Fale-me francamente, fidalgo, aqui diante de mim e de Deus que nos ouve, em sua consciência e sob a sua palavra de honra, que sempre honrou, fale-me franco, Sr. D. Luís; em toda a minha vida, desde os tempos em que servi a sua casa até hoje, no meio dos meus trabalhos, das minhas felicidades e dos meus reveses, pratiquei já alguma acção que obrigue V. Ex.ª a desconfiar de mim? Fale-me franco, Sr. D. Luís. Hoje mesmo, agora, neste momento em que me vê e me escuta, crê na sua consciência, que está na presença de um miserável?

D. Luís respondeu sem hesitar e em tom grave e digno:

- Não, nunca o acusei, Tomé, e creio que é um homem trabalhador e honrado.

- Então para que há-de ter somente para mim essa má vontade? Para que me há-de desprezar como se eu fosse um vil? a mim, que o servi fielmente, enquanto o servi, que então ganhei e conservei até hoje à sua família um amor cá de dentro, como se ela me pertencesse, que chorei a sua pobre menina, aquele anjo que Deus lhe levou, como choraria morta uma filha minha. Para que há-de ter só para este homem, que apenas bens deseja à sua casa, esses desprezos e essas afrontas? para este homem, que tem uma filha que lhe chama padrinho? E não quer que eu me sinta? Pois julga que não há aqui dentro um coração? Ah! fidalgo, fidalgo, creia o que lhe digo, em cada um desses jornaleiros que passam o dia vergados a trabalhar nas propriedades de V.

<< Página Anterior

pág. 260 (Capítulo 20)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Fidalgos da Casa Mourisca
Páginas: 519
Página atual: 260

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 18
III 25
IV 42
V 54
VI 62
VII 72
VIII 86
IX 102
X 114
XI 127
XII 137
XIII 145
XIV 155
XV 168
XVI 197
XVII 214
XVIII 233
XIX 247
XX 255
XXI 286
XXII 307
XXIII 317
XXIV 332
XXV 348
XXVI 358
XXVII 374
XXVIII 391
XXIX 401
XXX 414
XXXI 426
XXXII 440
XXXIII 450
XXXIV 462
XXXV 477
XXXVI 484
XXXVII 499
Conclusão 515