Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 20: XX Pág. 271 / 519

E este fundamento oculto procurava-o Berta com ânsia em si mesmo, estudava profundamente o seu próprio carácter, na esperança de descobrir a solução deste enigma que a afligia; e ao mesmo tempo estudava em Jorge o efeito dos esforços com que fazia por vencer aquela prevenção, qualquer que fosse.

Sucedeu o que era natural que sucedesse. Não é sem perigo que a imaginação de uma rapariga como Berta se entrega ao estudo de um carácter de rapaz como o de Jorge, que lucra sempre em ser estudado e conhecido. À medida que caracteres como este melhor se observam, mais virtudes se lhes descobrem, ao inverso de outros, cujos vícios latentes vão pouco e pouco transparecendo no decurso de uma atenta observação, e destruindo a impressão favorável que ao princípio produziram.

Berta reconheceu um dia que não obrigara impunemente o espírito a pensar a todo o instante em Jorge.

Assustou-a a descoberta, mas o efeito já não podia evitá-lo. Inquieta com os novos sentimentos que lhe invadiam o coração e a levavam a estas vagas apreensões, àquelas tristezas que tão frequentes lhe estavam sendo, não era outro o motivo da distracção com que escutara a mãe e da melancolia em que se deixou ficar à janela, depois que ela saiu.

De repente estremeceu.

Jorge, que já não procurava ocultar-se nas visitas que fazia a Tomé, e dava aos seus actos uma publicidade mais conforme com o seu carácter, acabara de entrar no pátio da Herdade, e, desmontando-se, prendia o cavalo, em que viera, ao esteio da ramada.

Alguns criados, que andavam por ali, ocupados em diversos serviços da lavoura, descobriram-se ao vê-lo entrar. Jorge cortejou-os com afabilidade e passou a interrogá-los sobre pormenores do trabalho em que eles se entretinham. Os homens davam-lhe as informações pedidas com os maiores sinais de deferência.





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