Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 20: XX Pág. 275 / 519

- Queira perdoar, Sr. Jorge.

Igualmente enleado, Jorge procurou mudar o sentido da conversa, falando outra vez de Tomé, em procura do qual saiu poucos minutos depois.

Assim que o viu deixar a sala, Luísa ficou pensativa por algum tempo e no fim disse em voz alta, como era costume seu:

- Deixá-los. Se assim fosse, tanto melhor. Coisas mais incríveis se têm visto. Seja o que Deus quiser!

Ao passar no patamar das escadas que davam para o quinteiro, Jorge encontrou ali Berta, que parecia esperá-lo. Cortejando-a, procurou nos olhos dela o vestígio de lágrimas.

- Sr. Jorge - disse-lhe Berta, com voz triste e levemente trémula -, perdoe-me a minha perturbação de há pouco. Fui obrigada a sair da sala sem lhe dizer nem uma simples palavra de agradecimento por o muito que lhe devia; mas creia que não é porque o desconheça.

- O que me deve! Então quer que lhe repita o que já lá dentro lhe disse? Eu sou que tenho a pedir perdão!

- Basta, Sr. Jorge, - atalhou Berta, tentando sorrir, mas raiando-lhe o sorriso por entre mal contidas lágrimas, como o sol no meio da chuva do Inverno. - Hoje não... mas... em outro dia... há-de dizer-me por que não é meu amigo.

Jorge estremeceu, e, olhando para ela, repetiu:

- Porque não sou seu amigo?! Que quer dizer, Berta?

- Oh! creia que há sinais que não enganam. Seja o que for, mas no seu pensamento há alguma coisa contra mim, Sr. Jorge. É pouco dissimulado, bem vê, não o pode disfarçar.

- Berta! mas que criancice! Pois que há-de haver contra si no meu pensamento?

- Não sei. Um dia mo dirá, não é verdade? É muito leal e muito generoso para não mo dizer. Bem vê que preciso sabê-lo para me emendar, porque... eu desejava que fosse meu amigo, Sr. Jorge. Todos o respeitam, todos falam na sua generosidade; espero que não a desmentirá comigo.





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