Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 20: XX Pág. 276 / 519

- Porém... - ia Jorge a objectar, quando Berta o interrompeu, dizendo:

- Agora não, agora não. Lembre-se só de que eu fico acreditando que será sincero comigo no dia em que eu o interrogar, e que decerto não se recusará então a falar-me com franqueza. Adeus, Sr. Jorge. Creia que desejava deveras que fosse tão meu amigo como é de meu pai.

E retirou-se depois de pronunciar estas palavras.

Jorge desceu vagarosamente as escadas, montou distraído o cavalo que o aguardava no quinteiro e deixou-lhe a rédea livre de maneira que o animal seguia a passo o caminho da casa, que por tanto tempo lhe dera abrigo, o caminho da Casa Mourisca.

Despercebidamente ia passando Jorge por todos os lugares intermédios. As palavras de Berta, animadas por aquela sentida comoção que a dominava ao falar-lhe, estavam-lhe ainda nos ouvidos, e nos olhos a imagem da gentil rapariga, em quem uma grave expressão de dor mais realçava a beleza.

- E se voltar a interrogar-me - pensava Jorge - que posso eu dizer-lhe? que devo confessar-lhe? - Nada. Pois que tenho eu contra ela? Pobre rapariga! Mas é certo que me parece que tenho sido um tanto rude, um tanto desabrido... E porquê?

Jorge parecia neste momento estar sondando o fundo do seu próprio coração, para investigar a verdade. De repente fez um movimento com a cabeça, como tentando rejeitar uma ideia pertinaz.

- Mas isto não pode ser, Senhor. Isto é uma loucura que não tem razão de existir. Pois não hei-de ter força de a abafar à nascença? Acaso o sangue de minha idade também me há-de fazer doidejar como aos outros? Eu felizmente não possuo o temperamento de Maurício e hei-de vencer na luta, hei-de. Mas em todo o caso é uma puerilidade, a maneira por que estou procedendo com Berta. Porque é certo que o modo por que a trato não é natural.





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