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Capítulo 21: XXI

Página 289

De quando em quando a vista de Berta erguia-se para o vulto escuro da Casa Mourisca, e parecia que o aspecto dela lhe aumentava a melancolia.

Luísa saiu enfim da sala, chamada por as exigências do serviço doméstico.

Berta ficou só. Reclinando a cabeça à mão e apoiada no peitoril da janela, conservou por muito tempo a imobilidade e a fixidez do olhar, que denunciava uma grande abstracção.

Em que pensaria Berta?

Que nuvem cruzaria o seu firmamento, para assim lhe projectar sobre a fronte aquelas sombras de tristeza?

Operava-se uma revolução moral naquele espírito. Berta saíra criança da aldeia, levando entre as mais agradáveis memórias da infância a dos momentos passados na Casa Mourisca e a das pessoas a quem ali dera então os seus primeiros afectos.

Crescera, e essas imagens modificaram-se pela influência do amor na fantasia, pela influência da solidão e dos devaneios da juventude; a de Beatriz, como que santificada pela morte, cercara-se de um resplendor angélico, claro e suave como os raios do luar em luminosas noites de Estio; a de Jorge aparecia-lhe como a de um amigo leal e seguro, a quem se não confiam puerilidades do coração, mas de quem se pode esperar auxílio e conselho nas provações da vida; a de Maurício, porém, fora a que a imaginação que despertava colorira de mais sedutores reflexos. O seu campeão de infância assumira as formas nobres e prestigiosas dos heróis de todos os poemas de amor. Beleza própria de uma juventude varonil, coragem, generosidade, tudo quanto exalta e enobrece a alma, a fantasia daquela rapariga, entregue a si, elaborando a sós sobre as memórias do passado, associara ao nome de Maurício. Fora isto que Berta trouxera no coração para a sua aldeia. Era o seu romance. Tinha ela a razão bastante clara para não o tomar por outra coisa mais real do que um verdadeiro romance, e bastante poder de reflexão para não se deixar dominar por ele.

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pág. 289 (Capítulo 21)

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Capa do livro Os Fidalgos da Casa Mourisca
Páginas: 519
Página atual: 289

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 18
III 25
IV 42
V 54
VI 62
VII 72
VIII 86
IX 102
X 114
XI 127
XII 137
XIII 145
XIV 155
XV 168
XVI 197
XVII 214
XVIII 233
XIX 247
XX 255
XXI 286
XXII 307
XXIII 317
XXIV 332
XXV 348
XXVI 358
XXVII 374
XXVIII 391
XXIX 401
XXX 414
XXXI 426
XXXII 440
XXXIII 450
XXXIV 462
XXXV 477
XXXVI 484
XXXVII 499
Conclusão 515