Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 23: XXIII Pág. 329 / 519

Mas tão longe estava de encontrá-la aqui!

Berta tremia e baixava os olhos sem atinar o que dissesse. A consciência de que o fidalgo estava escutando Maurício não era o menor motivo para a sua confusão. Se se achasse só, encontraria coragem para arrostar com o insulto. No olhar, nas palavras, no gesto de Maurício percebera o desarranjo de razão em que ele estava. Temia pois mais por ele do que por si.

Maurício prosseguiu:

- Julgávamos encontrar outra pessoa nesta velha casa abandonada, porque vimos um cavalo guardado furtivamente, aí perto, em uns pardieiros arruinados. Isto indicava a presença do cavaleiro. Saber-me-á dar notícias dele, Berta?

Berta não respondeu.

- Então não fala? Parece perturbada. É inexplicável a sua confusão diante de mim, Berta. Conhecidos há tanto tempo! companheiros de infância!... Não se lembra de que brincámos nesta sala eu, minha irmã, Berta e... e Jorge?

Um dos primos tossiu ao ouvir o último nome.

Maurício voltou-se:

- Que é? Que reflexões vos despertou este nome? Parece que também Berta não o ouve a sangue-frio.

Berta tremia cada vez mais.

- Aqui há um mistério. Berta está dominada por alguma influência má. Desconheço-a. Dar-se-á que o mau espírito se oculte de nós, três bons rapazes inofensivos, que respeitam todas as entrevistas secretas, todas as doces afeições da alma, e que só querem que se seja franco e leal com eles nas palavras e nas obras, e se ponha de parte a falsa moralidade dos hipócritas?

Depois, deixando o tom de sarcasmo pelo da veemência, bradou:

- Se alguém me ouve e ainda tem uns restos de brio e de vergonha, que se não esconda, que apareça. É tempo de acabar a comédia. Apareça ou eu prometo tentar a sua covardia, obrigando-o pela honra a acudir à mulher que furtivamente corteja, se a quiser livrar do galanteio que ela desdenhosamente rejeita.





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