Mas tão longe estava de encontrá-la aqui! 
Berta tremia e baixava os olhos sem atinar o que dissesse. A consciência de que o fidalgo estava escutando Maurício não era o menor motivo para a sua confusão. Se se achasse só, encontraria coragem para arrostar com o insulto. No olhar, nas palavras, no gesto de Maurício percebera o desarranjo de razão em que ele estava. Temia pois mais por ele do que por si. 
Maurício prosseguiu: 
- Julgávamos encontrar outra pessoa nesta velha casa abandonada, porque vimos um cavalo guardado furtivamente, aí perto, em uns pardieiros arruinados. Isto indicava a presença do cavaleiro. Saber-me-á dar notícias dele, Berta? 
Berta não respondeu. 
- Então não fala? Parece perturbada. É inexplicável a sua confusão diante de mim, Berta. Conhecidos há tanto tempo! companheiros de infância!... Não se lembra de que brincámos nesta sala eu, minha irmã, Berta e... e Jorge? 
Um dos primos tossiu ao ouvir o último nome. 
Maurício voltou-se: 
- Que é? Que reflexões vos despertou este nome? Parece que também Berta não o ouve a sangue-frio. 
Berta tremia cada vez mais. 
- Aqui há um mistério. Berta está dominada por alguma influência má. Desconheço-a. Dar-se-á que o mau espírito se oculte de nós, três bons rapazes inofensivos, que respeitam todas as entrevistas secretas, todas as doces afeições da alma, e que só querem que se seja franco e leal com eles nas palavras e nas obras, e se ponha de parte a falsa moralidade dos hipócritas? 
Depois, deixando o tom de sarcasmo pelo da veemência, bradou: 
- Se alguém me ouve e ainda tem uns restos de brio e de vergonha, que se não esconda, que apareça. É tempo de acabar a comédia. Apareça ou eu prometo tentar a sua covardia, obrigando-o pela honra a acudir à mulher que furtivamente corteja, se a quiser livrar do galanteio que ela desdenhosamente rejeita.