Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 24: XXIV Pág. 336 / 519

Mas repare, Gabriela, que disse: entrar nobremente no caminho do trabalho. E nobremente não é andar a estender a mão à esmola dos antigos servos da nossa casa.

- Não houve esmola. Foi um honrado contrato aquele, feito entre dois homens igualmente honrados. Se faltaram nele todas as seguranças do costume, tanto melhor; foi porque ambos se conheciam e confiavam um no outro. As garantias mais poderosas são afinal essas. Contratos destes só se dão entre homens de bem. Olhe, tio Luís, longe de mim discutir agora o proceder de Jorge; mas, se quer que lhe diga, tenho a íntima convicção de que aí dentro, bem no fundo da sua consciência, não se conserva já grande ressentimento contra seu filho mais velho. Há forçosamente uma voz interior que lhe clama que Jorge é um nobre e generoso carácter.

- Não disse ainda que Jorge fosse vil e infame. Mas diz bem, Gabriela, não discutamos agora isto. Peço-lhe então que decida Maurício a sair, para evitar novas imprudências e indignidades; não tanto por nós, como por essa boa rapariga, que é digna deveras de toda a simpatia. Que parta e que não me apareça.

E D. Luís saiu do quarto, repetindo esta última recomendação.

A baronesa ficou pensando:

- Decididamente é preciso pôr Maurício daqui para fora. Este carácter em uma cidade grande é uma coisa insignificante; a agitação que causa perdia-se na grande agitação daquele mundo. Aqui é um terrível elemento de desordem e talvez de sérias catástrofes. Agora quem me agrada mais e muito mais é o tio Luís. Sim senhores. Acho-o menos bravo, apesar dos seus furores. Como ele falava da filha do Tomé! Do Tomé, que é afinal a pedra de escândalo disto tudo! Quem o domaria a este ponto? A rapariga, ao que parece, tem condão para se insinuar. O tio Luís tem um grande fraco por ela, conhece-se.





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