Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 24: XXIV Pág. 340 / 519

- Porque não?

- Os corações como o de Berta precisam do calor suave da vida de família para rescenderem o grato perfume do seu amor. Para um homem a quem ainda atraem as lutas da vida e as lides da glória, não é das mais adequadas companhias a destas mulheres estremosas e modestas, que somente se satisfazem com afectos, e cujo amor não se nutre da glória do objecto que amam, mas exclusivamente do amor que dele exigem. Almas que o ciúme desalenta, que a ausência definha, não são para companheiras daqueles homens. Se um dos tais mais imprudente liga um destes corações ao seu destino, ou o martiriza, cedendo aos próprios instintos de glória, ou, sacrificando-lhos, tortura-se, e a tortura reflecte-se sobre essas almas amoráveis, que a adivinham.

- E poderá ser verdadeiro um amor que não tenha essas qualidades que diz?

- Pode. Pois não pode! É preciso que evites, Maurício, o preconceito que tem muita gente de que tudo é falso e mau nos brilhantes círculos sociais. Não é. Lá há também amores e afeições verdadeiras, podes crê-lo, mas, nascidas e criadas em condições diversas, vivem e resistem a ventos que definham as outras. Uma mulher daquele mundo, sem que deixe de amar seu marido, não aspira a monopolizá-lo para o seu amor. Pelo contrário, deseja que ele desempenhe a sua missão na sociedade. Com a glória que aí adquirir, se ilumina ela também, e em vez de o reter na obscuridade do lar doméstico, impele-o para a luz e sente que o seu amor para ele cresce na proporção em que os outros o admiram. É uma vaidade que se converte em estímulo. Estas mulheres assim servem de incentivo às aspirações, e são as que convêm aos artistas, aos políticos, em uma palavra, aos ambiciosos.

- Mas quem lhe disse que eu era ambicioso? - perguntou Maurício, já em tom diferente, e demorando na baronesa um olhar analisador, como de quem pela primeira vez descobria nela qualidades dignas de atenção.





Os capítulos deste livro