A beleza e a inteligência de Gabriela, aprimoradas ambas por uma arte que sabia ocultar-se para não prejudicar os efeitos que obtinha, atraíam Maurício de uma maneira irresistível.
A baronesa tinha a perspicácia necessária para o perceber. O seu amor-próprio feminino era naturalmente afagado pela descoberta; mas, além desta desculpável fraqueza, outras razões havia mais poderosas para que essa observação a lisonjeasse.
Gabriela, como já dissemos, ficara viúva, muito jovem, do barão de Souto-Real. Tendo ainda instintos de juventude a satisfazer, prometera a si própria consultar o coração antes de prender-se segunda vez. Quando recebeu a carta de D. Luís e veio ter com ele à Casa Mourisca, sabedora das dificuldades financeiras com que lutava o fidalgo e dos nobres esforços de Jorge para remediá-las, ocorrera-lhe o pensamento generoso de favorecer o empenho do primo oferecendo-lhe com a sua mão os recursos de que ele precisava para realizá-lo. A admiração e o respeito que lhe inspirava o carácter sisudo de Jorge permitiam-lhe dar esse passo com o coração folgado.
Custava-lhe apenas ter de renunciar aos fulgores da capital, a que se habituara e que amava com toda a paixão de uma mulher da moda; mas confiava em que o seu bom senso e os subsequentes cuidados de família lhe suavizariam o sacrifício. Tratando porém mais de perto com o primo, compreendeu que devia desistir do seu projecto.
Jorge pareceu-lhe incapaz de se apaixonar; e com certeza, não a amando, não se resolveria a aceitar a mão que ela lhe oferecesse, mormente por levar consigo os recursos que o poderiam auxiliar na sua nobre empresa.
Gabriela abandonou pois a ideia que tivera. Em Maurício não pensara ao princípio. Achava-o tão leviano, que, como ela dizia, não podia lembrar-se seriamente de fazer dele um marido.