Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 24: XXIV Pág. 345 / 519

Agora porém, notando a súbita impressão que ocasionalmente lhe produzira, e cujos efeitos duravam e progrediam, a baronesa principiou a encarar o caso debaixo de diferente luz.

Se Maurício se apaixonasse por ela, ser-lhe-ia fácil fazê-lo partir para Lisboa e vencer a repugnância que ele parecia opor a abandonar a aldeia justamente na ocasião em que a resistência do pai havia cedido.

Se, depois de deixar tomar maior incremento a este novo capricho de Maurício, ela subitamente partisse para Lisboa, sem dúvida que o arrastaria atrás de si. O resto fá-lo-iam as seduções da capital.

Para conseguir este resultado, julgou pois Gabriela que não devia apagar aquele fogo que principiava a atear-se no inflamável coração do primo: lavareda rápida e fugaz, que importava? contanto que durasse até extinguir a outra que lá ardia.

E se durasse mais? Quem sabe? Talvez que o primeiro pensamento de Gabriela se pudesse realizar com uma variante. Maurício não era Jorge. O carácter volúvel e inconstante do filho mais novo de D. Luís não o garantia como um modelo de maridos. Mas a baronesa, segundo ela própria dissera ao primo, não era destas mulheres exigentes que zelam a posse de todos os pensamentos e de todos os instantes do homem que amam. A vida da alta sociedade ensinara-a a ser condescendente. Se encontrasse no marido verdadeira estima e delicadeza, não seria uma ou outra infidelidade que a obrigaria ao papel lacrimoso de esposa abandonada.

Depois, Maurício tinha pelo menos sobre Jorge uma vantagem.

Não exigiria dela o sacrifício dos seus queridos hábitos, nem a desterraria dos luzidos círculos que ela amava tanto. Antes lhe abriria ampla carreira de gozos, quando soltasse os voos às ambições que lhe adivinhara.

Assim pois Gabriela deixava-se galantear por o primo e ensaiava nele a sua táctica admirável, que o encontrou mais inexperiente do que era de supor em quem de tanta fama de experimentado gozava.





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