Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 25: XXV Pág. 352 / 519

aquela natural franqueza todo o seu pensamento; e feito isto pode a escolhida ter a certeza de que terá um marido leal e afeiçoado, talvez sem grandes requebros de amante, mas com a verdadeira estima de um amigo.

- Decerto que a pessoa a quem o Sr. Jorge estender a mão pode confiar nela como na dum pai.

Berta, julgando dizer estas palavras naturalmente, não pôde tirar-lhes um tremor de comoção, que a baronesa notou.

Berta foi quem primeiro rompeu o silêncio que se seguiu a estas palavras.

- Mas dizia a Sr.ª baronesa que viera procurar-me?

- É verdade. Andava ansiosa por conhecê-la. Adivinhava-a pela impressão que via causar em quantos se aproximavam de si. O tio Luís falava-me de Berta com uma ternura a que já é pouco sujeito; Maurício com um entusiasmo de apaixonado; e Jorge...

Gabriela fez aqui intencionalmente uma pausa, durante a qual estudou a fisionomia de Berta.

Esta baixara-se, como para cortar uma malva do chão, mas nas faces estendia-se-lhe um rubor fugaz, que denunciava um íntimo alvoroço.

- E Jorge - concluiu a baronesa -, com aquele modo aparentemente frio que tem para dizer todas as coisas, mas em termos que exprimiam bem a sua estima por a pessoa de quem falava; daqui o meu desejo de conhecê-la; não me admiro agora de todo aquele efeito, porque eu mesma o estou sentindo já.

Berta sorriu, agradecendo-lhe o cumprimento.

- Creia-me, Berta. Conhecemo-nos de pouco, mas olhe que sou já sua amiga e talvez possa ainda mostrar-lho um dia.

- Agradecida, Sr.ª baronesa.

- Não tome esse tom de cerimónia para me falar. O que eu digo não é um cumprimento. Sabe que mais, Berta? Talvez que pouca gente esteja tão adiantada no conhecimento do seu coração como eu, depois desta nossa primeira e curta entrevista.





Os capítulos deste livro