Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 25: XXV Pág. 353 / 519

Berta corou desta vez intensamente, e, olhando para Gabriela com um olhar assustado, balbuciou quase trémula:

- Do meu coração?... Porventura...

- Não se assuste. Não quero falar mais nisto enquanto não me conhecer melhor. Só lhe digo que eu não passo de uma pobre mulher com bastante coração e com o grau de loucura preciso para me entusiasmar pelo partido dos sentimentos generosos e sinceros, quando lutam com as convenções e os preconceitos sociais. E agora deixe-me mostrar-lhe um grupo de cavaleiros que estou daqui vendo, e que talvez o seu olhar melhor possa distinguir do que o meu.

Berta, seguindo com os olhos a direcção que a baronesa lhe indicava, exclamou:

- São eles, são! É meu pai e Jorge... e o Sr. Jorge.

E aproximando-se do ângulo do adro, donde melhor poderia ser vista, pôs-se a acenar com o lenço para os recém-chegados.

Tomé não respondeu logo, mas passado algum tempo tremulava na ponta da vara do cavaleiro, como flâmula em mastaréu de navio, o lenço de quadros, que o vento desenrolava.

Gabriela, seguindo com os olhos os movimentos de Berta, pensava:

- O mistério desta já eu descobri. Pobre criança! tem muito pouca astúcia para ocultá-lo. Há nela uma transparência que deixa ver até ao coração. E aquele? - prosseguiu, dirigindo os olhares para Jorge, que ainda vinha longe. - Enganar-me-ia eu? Não será aquilo somente frieza, será reserva? Pode ser, pode. Estes homens assim morrem às vezes com uma paixão no peito, e morrem por esforços que fazem para ocultá-la. Se o facto se der com Jorge, é uma coisa gravíssima; quem pode calcular o que se seguiria? Enquanto a Maurício, já vejo que está tudo bem; parece-me que por este lado não deixará muitas lágrimas por vestígio da sua passagem, nem terei de sentir remorsos se o arrebatar para longe destas paragens.





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