Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 25: XXV Pág. 356 / 519

- E aconselha-me isso? - exclamou ele. - Não seria regenerar-me, seria vender-me, e venda mais vergonhosa do que aquela aonde nos conduziria o sistema de administração seguido até agora nesta casa; porque nesse apenas se punha em venda a propriedade, e neste vendia-se o proprietário.

- Isso é conforme a maneira de ver as coisas; além de que eu a ti já faço a concessão de não supor um casamento exclusivamente por interesse, mas quero que um pouco de amor autorizasse o contrato, que sem tal sanção te repugnaria. Tudo se podia combinar.

- Eu não tenho tempo para amar - respondeu Jorge sacudidamente.

- Ora; o amor não espera ocasião oportuna. E eu não posso acreditar que uma alma como a tua não esteja conformada para uma afeição verdadeira.

- Não digo que não; mas quero fugir de pôr em prática essa aptidão, se a tenho, porque talvez que depois não sentisse bastante contemplação para com o mundo, para aceitar a restrição que ele costuma impor à satisfação das paixões.

- Mas quem te diz que se estabeleceria esse conflito entre ti e o mundo?

- Era o mais provável.

- Queres dizer que mais depressa te apaixonarias por alguma rapariga do povo, pobre, costumada à vida do trabalho e da economia, do que por qualquer das tuas ociosas fidalgas primas destes arredores.

- Com certeza que não me seduzirão essas.

- Mas vamos; se apesar das tuas precauções o facto se desse - porque enfim... estas coisas nem sempre é possível evitá-las, romperias abertamente com o mundo?

- Nem quero pensar no que faria. Talvez me resignasse a deixar-me sacrificar aos preconceitos dos outros. Sabe de quem. Resignava decerto, se o sacrifício fosse somente meu. Mas, se amasse deveras e fosse amado, e a mulher a quem dedicasse este amor não tivesse igual coragem para o mesmo sacrifício.





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