Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 26: XXVI Pág. 364 / 519

Que se pode esperar daquela gente?

- Mas têm quem os atenda, que é o que me faz zangar. Uma autoridade descer àquelas baixezas e andar aí a receber o beija-mão daqueles senhores! Isto, a falar a verdade, parece-me... nem eu sei o que me parece.

Jorge esteve algum tempo sem retorquir - absorvido pelo exame de um papel que encontrara no maço. Depois, tomando à margem uma nota a lápis, e pondo o papel de lado, ponderou vagamente:

- Coisas deste mundo, Clemente; que remédio senão aceitá-lo assim?

- Isso é que é verdade.

- E lá por casa como vão? Tua mãe?

- Bem; foi ela quem me aconselhou esta visita.

- Sim? Então já ta não agradeço.

- Eu, a falar a verdade, como sei que tem o tempo muito ocupado, receio...

- Ora deixa-te de tolices. Se por acaso estivesse tão ocupado, que me não fosse possível receber-te, com a maior franqueza to diria. Bem sabes que entre nós não há etiquetas.

- Pois eu vinha para pedir-lhe um favor.

- Terei muito prazer em te servir - respondeu Jorge, levantando-se para procurar novos papéis na secretária e voltando a sentar-se à banca, sempre entretido no seu trabalho.

- Como sabe, pedi a minha demisssão e estou agora resolvido a viver em minha casa e a... ocupar-me sempre dos meus negócios.

- É justo. E quem bem trabalha no que é seu também trabalha no que é de todos - ponderou Jorge, enquanto executava uns cálculos aritméticos.

- Ora, para fazer a vontade a minha mãe e também por me sentir com inclinação para isso, estou meio decidido a...

- A casar-te, hein? - concluiu Jorge, sem manifestar surpresa, e notavelmente embebido na execução dos seus cálculos.

- Justamente.

- É uma boa resolução. Os homens como tu dão excelentes chefes de família. Podes fazer a tua felicidade e a da mulher com quem casares.





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