Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 26: XXVI Pág. 365 / 519

- Isso são favores seus, Sr. Jorge.

- Ora! Mas afinal o que queres tu? Vens ouvir-me de conselho nesse negócio? A mim, um rapaz solteiro?...

- Não senhor, a coisa é outra.

- Então?

- Eu já lancei as minhas vistas...

- Sim, é natural.

- Mas não sei ainda se serei bem acolhido e, para lhe falar a verdade, não me sinto com ânimo de... de tratar disso em pessoa.

- Não? Ora essa? E então?

- E então lembrei-me do Sr. Jorge para lhe pedir este favor.

- De mim?! Tem graça. Queres obrigar-me a representar o papel de casamenteiro. Com todo o gosto. Mas sempre tenho curiosidade de saber a razão por que te lembraste de mim - disse Jorge, que, havendo concluído o cálculo, poisara a pena e esfregava vivamente as mãos para aquecê-las. Olhando desta vez directamente para o seu interlocutor, perguntou-lhe:

- E quem é a noiva?

- É a filha do Tomé da Póvoa.

Estas palavras dissiparam instantaneamente toda a meia indiferença com que Jorge escutara até ali as comunicações de Clemente. O estremecimento que não pôde reprimir ao ouvi-las, súbita transformação que se lhe operou na fisionomia, bastariam para revelar a Clemente, se este bom rapaz não tivesse uma daquelas almas onde nunca entram de súbito as suspeitas, mas somente depois de muitos e porfiados embates.

- A filha de Tomé da Póvoa! - repetiu Jorge estupefacto.

- Sim - tornou Clemente, interpretando erradamente aquele espanto - a filha do Tomé da Póvoa, do Tomé da Herdade... Berta, a que foi educada em Lisboa e que voltou há tempos...

- Bem sei - atalhou Jorge com impaciência - mas... Berta...

E acrescentou quase sem consciência do que dizia:

- Berta da Póvoa... mas... mas como te lembraste agora de Berta sem mais nem menos? É singular!

- Como me lembrei agora? Mas não foi agora que me lembrei.





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