Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 26: XXVI Pág. 366 / 519

Eu já tinha pensado nisso. É a noiva que eu próprio...

- Pois sim, mas... Como te deu logo para pensar em Berta da Póvoa? É o que pergunto.

- Ora essa! Em alguma havia eu de pensar. Se não fosse nela, seria em outra. Sucedeu ser Berta. Coisas do coração...

- Aí vens tu já com o coração - acudiu Jorge com mal reprimido despeito. - Vocês falam no coração a propósito de tudo. E até agora então, que andavas todo influído com a tua regedoria não te importaste com o coração, nem ele te dizia nada... Ora adeus!!! O coração...

E erguendo-se da banca com certa agitação, que estava espantando Clemente, pôs-se a passear no quarto, e tão convulso que não conseguia preparar um cigarro, que mal sustinha nas mãos.

Clemente alegou:

- Eu não digo que isto seja uma paixão muito forte, uma paixão por aí além; mas, resolvido a tomar estado, pensei na noiva que me conviria e lembrei-me de Berta. É uma boa rapariga bem-educada e de alguns haveres...

Jorge cortou-lhe a palavra:

- Ah! então diz-me disso. Agora já entendo por que te lembraste de Berta. Devias principiar logo por aí. De alguns haveres! Aí é que está a questão. Vocês são todos os mesmos afinal. O interesse, o maldito interesse! Pois fazia melhor conceito de ti, Clemente; digo-te francamente que fazia de ti melhor conceito. Lá porque uma rapariga tem meia dúzia de centos de mil-réis, já a perseguem com o propósito de casamento, já...

- Ó Sr. Jorge! - interrompeu Clemente, tão surpreendido como vexado com o que ouvia - por quem é, faça melhor opinião de mim. Não só me não lembrei de Berta apenas pelo dinheiro, mas nem a quero perseguir. Olha quem! Eu? Se a rapariga disser que não, ou o pai, paciência. Mas parece-me que a minha proposta não a desonra.

Jorge principiava já a conhecer a sem-razão com que falava, mas não podia ainda ceder totalmente ao bom senso que despertava em si.





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