Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 27: XXVII Pág. 386 / 519

A uma pequena pausa que Jorge fez na sua apaixonada exposição, Berta ergueu outra vez os olhos para ele, e nesse olhar ia a condenação daqueles ciúmes.

Jorge continuou:

- E porque me assustava tanto este amor? Porque tentava resistir-lhe assim? Ao princípio foi pela estranheza que me causou este sentimento novo e desconhecido; depois, o receio de que fosse descoberto este amor em um homem que todos supunham incapaz de amar; um quase pudor de coração. Finalmente veio a reflexão aumentar estes receios. Se este afecto crescesse e me dominasse como paixão violenta e exclusiva, que obstáculos não teria a vencer! que preconceitos não teria de calcar! Desprezando arreigados prejuízos de meu pai, incorrera eu já nas suas iras, mas dessa vez desatendi-os, menos pela minha felicidade do que pela dele; para salvar o nome e a honra da nossa família, a cuja aviltação meu pai não sobreviveria. Tive por isso coragem para lutar e tenho-a para prosseguir. Mas agora tratava-se somente da minha felicidade; era só a ela que eu teria de sacrificar os preconceitos, o orgulho, as radicadas opiniões daquele honrado velho. Faltava-me o alento para tentá-lo. Preferia dar-lhe em holocausto o meu coração. E o sacrifício devia ser definitivo, porque a memória de meu pai o exigiria de mim, impor-mo-ia tão fortemente como ele próprio. Mas, se este amor fosse correspondido, faltar-me-ia o ânimo e até o direito de o sacrificar assim. Por isso fugi de me revelar, Berta, por isso tentei antes fazer-me aborrecido do que estimado de si, de quem eu apreciaria o amor como um dom do céu. Creia. Por isso aceitei com o coração a despedaçar-se-me, mas com certo doloroso prazer, a missão de que me encarregou Clemente. Deus sabe o que eu sofria há pouco. A sua condescendência torturava-me, nas suas hesitações julgava descobrir vestígios de uma afeição.





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