- Porquê? - perguntou Gabriela.
- Porque... porque não.
- Quererás dar-te ao incómodo de procurar outra razão mais lógica, primo Jorge?
- Meu pai não aceitaria os cuidados da filha do Tomé da Póvoa.
- Primeiro que tudo é preciso que consideres que o doente que eu deixo lá dentro não é já aquele D. Luís que nós ambos conhecemos na Casa Mourisca; depois Berta para ele é raras vezes a filha do Tomé, é a amiga de Beatriz, é a imagem viva daquele anjo que ele ainda hoje chora. Teu pai não terá coragem para afugentar Berta de junto do seu leito, e difícil será tirá-la de lá.
- Tomé não consentiria...
- Tomé é um homem generoso e que, apesar de tudo, tem uma sincera afeição ao tio Luís. O Jorge bem o sabe.
- Mas...
- Mas, afinal de contas, a principal objecção está em que o primo Jorge não quer. E porque não quer?
- Não é isso, mas... Demais a mais Berta não viria decerto nesta ocasião, em que lhe não falta que fazer em casa.
- Pois que há por lá?
- Os preparativos do casamento dela.
- Do casamento de... quem?!
- De Berta.
A baronesa ficou desta vez verdadeiramente surpreendida.
- De Berta?! Pois Berta casa-se?!
- E em pouco tempo.
- Com quem?
- Com o Clemente, o filho da minha ama, da Ana do Vedor.
Gabriela permaneceu algum tempo calada, sem poder desviar os olhos de Jorge, como se quisesse devassar o que se passava no espírito do primo, ao dar-lhe em tom de indiferença aquela notícia.
- Berta casa-se! - repetiu ela. - E por sua vontade?
- Por certo. Quem a obrigaria?
- Parece-me incrível. E que pensa o primo Jorge desse casamento?
- Acho-o tão natural que fui eu próprio que fiz a proposta.
- A proposta do casamento?!
- Sim, a proposta do casamento.
- A Berta?!
- Ao pai e a ela.