Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 29: XXIX Pág. 404 / 519

O fidalgo sorriu com brandura e, passando a mão trémula pelos fartos cabelos de Berta, disse-lhe, olhando-a com simpatia:

- Mas que dirá teu pai?

A estas palavras Berta dirigiu para a porta do quarto um olhar indiscreto, olhar que despertou suspeitas no espírito de D. Luís e o obrigou a seguir com a vista a mesma direcção.

Através da porta meio aberta descobriu a figura de Tomé, que ficara no corredor. Uma rápida contracção atravessou como o efeito de um choque eléctrico a fronte de D. Luís; em breve, porém, dissipou-se este sinal de desgosto, e com voz serena e sem aspereza interrogou:

- Estava aí, Tomé da Póvoa?

O fazendeiro deu alguns passos no quarto, ainda timidamente, e respondeu, volteando o chapéu entre as mãos:

- Estava sim, fidalgo; foi eu mesmo que acompanhei a rapariga, e, se V. Ex.ª me quiser fazer o favor de aceitar a companhia dela, com muito gosto lha deixo ficar. Porque enfim, Sr. D. Luís, isto de mulheres sempre é outra coisa para lidar connosco. Têm lá umas maneiras de enfeitiçar um homem que quem uma vez foi tratado por elas em doença, já se não entende com outros enfermeiros. Lá sabem temperar os remédios, arrefecer os caldos, ajeitar a roupa da cama e os travesseiros, que parece que uma pessoa come, bebe e dorme ainda que não tenha vontade, desde que elas queiram. Por isso, como a rapariga é afilhada de V. Ex.ª e a Sr.ª baronesa foi para Lisboa e V. Ex.ª ficou só, e ela não nos faz falta, porque, graças a Deus. a minha Luísa ainda basta só para o tráfego da casa, lembrou-me trazê-la, por me parecer que podia prestar alguns serviços a V. Ex.ª.

- Então sabe agora, meu padrinho, o que dirá meu pai? - perguntou Berta, ocupada a acomodar a cama que o doente tinha desordenada.

- Mas... Tomé - dizia D.





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