mãos robustas a mão magra e aristocrática do senhor da Casa Mourisca, dizendo, com a expansão de entusiástica simpatia que tinha em excesso na alma:
- Pode acreditar, fidalgo, que aperta a mão de um amigo.
D. Luís fez um gesto silencioso de aquiescência.
Tomé da Póvoa, quando saiu da sala, levava nos olhos um brilho denunciador de comoção.
Todas as cenas e acções generosas exerciam nele este efeito.
Berta ficou só com o padrinho. Com aquele instinto de actividade e de ordem natural à índole feminina, entrou imediatamente no exercício de suas funções, dispondo os preparativos para a leve refeição do doente, da qual se encarregara ao encontrar no corredor um criado com a bandeja na mão.
Trabalhando e conversando, Berta tinha já aqueles ares de familiaridade que naturalmente assumem as mulheres no trato da casa que dirigem.
Tomara posse daquele terreno como de domínio seu, e dentro em pouco a influência dos seus cuidados fazia-se já sentir na aparência de ordem e de método que ali dentro vestira tudo.
D. Luís seguia-a com olhos de satisfação. Parecia-lhe que ela só povoava o quarto.
Com que indizível prazer a via tirar dos ombros o xale que trouxera, dobrá-lo e pousá-lo, junto com o chapéu, no sofá próximo do leito, como se estivesse em sua casa?
A presença daquela jovem e gentil rapariga, ocupada na lida doméstica, falando-lhe com meiguice e alegria, adivinhando-lhe e prevenindo-lhe os menores desejos, satisfazia uma tão ardente e tão antiga necessidade do coração daquele homem, que, esquecido quase de seus infortúnios, reputava-se feliz.
Animado por Berta, comeu com mais apetite e falou com uma animação que lhe não era habitual.
- Mas, agora me lembra, Berta - disse D. Luís, como se de repente lhe ocorresse uma ideia -, preciso de dar ordens para a tua acomodação.