Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 29: XXIX Pág. 408 / 519

Berta, que estava alisando uma das travesseiras em que o padrinho se encostava, murmurou, como a gracejar:

- A melhor maneira de ficar sabendo é ouvi-los.

D. Luís encolheu os ombros, como a exprimir o pouco valor que supunha à conferência pedida, mas disse ao padre:

- Diga-lhes que entrem.

Estava finalmente revogada a sentença que votara ao ostracismo os dois filhos do fidalgo. O coração do velho sentia-se muito brando naquele momento para conservar rancores. A influência de Berta principiava a actuar.

A negrura dos delitos que até ali acusara os filhos, dir-se-ia que a dissipara um sorriso da afilhada.

Jorge e Maurício entraram pouco tempo depois no quarto, descobertos ambos, e com aquele ar de respeito que sempre lhes impunha a presença do pai.

Berta sentiu que se lhe sobressaltava o coração, ao tornar a ver Jorge depois da cena que tivera lugar na Herdade.

Não pôde porém deixar de fitá-lo com interesse. Achou-o pálido e abatido.

Dominando as suas violentas impressões, saudou os dois irmãos com um sorriso afectuoso e sereno.

Jorge e Maurício corresponderam-lhe com um gesto de deferência e simpatia.

Ambos estavam prevenidos da presença dela.

Jorge compreendeu que a baronesa insistira em realizar os seus projectos, apesar das objecções com que ele os combatera. E não desestimou que ela o tivesse feito. Incomodava-o a ideia do isolamento em que ia ficar seu pai. Os carinhos de Berta deviam ser-lhe preciosos. Depois a vinda dela para os Bacelos não retardaria o fatal casamento, com que não pudera ainda conformar o espírito? De pouco serviria a demora, vista a irrevogável resolução que ambos haviam adoptado; mas fazer recuar a consumação de um facto funesto é sempre um alívio.

Aceitou pois de boa vontade a vinda de Berta para junto de seu pai, mas resolveu precaver o coração dos perigos que correria, se permanecesse junto dela.





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