Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 30: XXX Pág. 422 / 519

Jorge interrogou-o, sorrindo:

- O que me achas tu, para me fitares com esses olhos?

- O Sr. Jorge tem estado doente?!

- Não; vou passando bem. Parece-te que tenho cara de doente?

- Sim; acho-o descorado e abatido - disse Clemente, procurando disfarçar as apreensões que sentia ao vê-lo - Não trabalhe tanto, Sr. Jorge.

- Isto não é de trabalhar. Uma noite de bom sono far-me-á voltar ao que fui. Então o que te traz por aqui?...

- Venho consultá-lo.

- Há tempos a esta parte obrigas-me a funcionar como conselheiro, sem que eu saiba bem em que mereci a honra da nomeação. Ora diz lá o que me queres.

- Trata-se ainda do mesmo negócio do outro dia.

Jorge fez um gesto de impaciência e desagrado.

- Pois não está já tudo decidido? que mais queres? A respeito do enxoval não dou conselhos

- Nem tudo está decidido, não senhor.

- Então?

- Eu lhe digo o que se passa.

E Clemente narrou a Jorge a substância da entrevista que tivera com a sua noiva.

Custou a Jorge ocultar a perturbação que lhe causava a narrativa. No fim conseguiu perguntar com aparente frieza:

- E que queres tu que te diga?

- Queria que me dissesse se por acaso sabia alguma coisa destes amores.

Jorge saltou da cadeira e olhou para Clemente, fazendo-se excessivamente corado.

- Eu?! E porque é que hei-de saber desses amores?

Clemente, admirado do efeito das suas palavras, disse com hesitação:

- Lembrava-me... como é amigo do Tomé da Póvoa... talvez soubesse...

- As relações que possa ter com o pai não me habilitam a devassar o coração da filha; mas que desejas tu saber desses amores? Não te disse ela que era como se não existissem? que nasceram sem faculdades para viver? O que te resta é julgar por ti se nas condições em que Berta aceita a tua proposta, ainda podes insistir em fazê-la.





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