Jorge interrogou-o, sorrindo: 
- O que me achas tu, para me fitares com esses olhos? 
- O Sr. Jorge tem estado doente?! 
- Não; vou passando bem. Parece-te que tenho cara de doente? 
- Sim; acho-o descorado e abatido - disse Clemente, procurando disfarçar as apreensões que sentia ao vê-lo - Não trabalhe tanto, Sr. Jorge. 
- Isto não é de trabalhar. Uma noite de bom sono far-me-á voltar ao que fui. Então o que te traz por aqui?... 
- Venho consultá-lo. 
- Há tempos a esta parte obrigas-me a funcionar como conselheiro, sem que eu saiba bem em que mereci a honra da nomeação. Ora diz lá o que me queres. 
- Trata-se ainda do mesmo negócio do outro dia. 
Jorge fez um gesto de impaciência e desagrado. 
- Pois não está já tudo decidido? que mais queres? A respeito do enxoval não dou conselhos 
- Nem tudo está decidido, não senhor. 
- Então? 
- Eu lhe digo o que se passa. 
E Clemente narrou a Jorge a substância da entrevista que tivera com a sua noiva. 
Custou a Jorge ocultar a perturbação que lhe causava a narrativa. No fim conseguiu perguntar com aparente frieza: 
- E que queres tu que te diga? 
- Queria que me dissesse se por acaso sabia alguma coisa destes amores. 
Jorge saltou da cadeira e olhou para Clemente, fazendo-se excessivamente corado. 
- Eu?! E porque é que hei-de saber desses amores? 
Clemente, admirado do efeito das suas palavras, disse com hesitação: 
- Lembrava-me... como é amigo do Tomé da Póvoa... talvez soubesse... 
- As relações que possa ter com o pai não me habilitam a devassar o coração da filha; mas que desejas tu saber desses amores? Não te disse ela que era como se não existissem? que nasceram sem faculdades para viver? O que te resta é julgar por ti se nas condições em que Berta aceita a tua proposta, ainda podes insistir em fazê-la.