- Quem fala aqui em morrer? Agora que o Inverno passou e que este tempo está a dar vida a tudo é que o padrinho se lembra disso? Pois veremos. Dentro de poucos dias é preciso continuarmos aqueles nossos passeios na quinta.
D. Luís sorriu tristemente e fechou os olhos, como para reter uma lágrima, que, apesar disso, lhe passou por entre as pálpebras e lhe rolou vagarosa pelas faces descarnadas.
Berta murmurou ao ouvido do velho:
- Chore à vontade, que estou eu só aqui. Chore, que lhe faz bem.
Como se a densa tristeza que pesava sobre o coração daquele homem só esperasse aquelas palavras para se fundir em lágrimas, o pranto inundou-lhe o rosto, que ele quase escondeu no seio de Berta.
Aquela expansão foi-lhe salutar. O sono seguinte foi mais tranquilo e menos cortado por sonhos fatigadores. Contudo o estado do doente era ainda muito grave, e na aldeia e imediações corria já voz do próximo falecimento do fidalgo da Casa Mourisca.
A parentela das vizinhanças a cada momento vinha ou mandava aos Bacelos saber novas do fidalgo. Tomé da Póvoa passava ali a maior parte do seu tempo; a própria Ana do Vedor viera oferecer os seus serviços à família, e raras vezes se desviava da casa.
Berta continuava assiduamente junto do leito do enfermo, sem perder a esperança de o ver sair vitorioso daquela tremenda crise.
Ninguém a desviava dali. Retinha-a a vontade própria, assim como a do doente, a quem a menor contrariedade podia ser fatal.
A baronesa não só não insistia para que Berta cedesse a outrem o campo, mas nem deixava que alguém insistisse. Dizia ela que a juventude de Berta podia bem com aquele sacrifício, e que era provável que Deus não deixasse sem recompensa a sua caridade.
Durante três dias a família reunida nos Bacelos passava o tempo, por assim dizer, na expectativa do triste acontecimento que se preparava.